sábado, 29 de março de 2014

Engenheiros do Hawaii: bons e velhos



...Mas eu tenho a impressão de que está cada vez mais difícil encontrar uma banda de Rock recente (falo de bandas brasileiras e que cantem em português) que consiga conciliar, de maneira realmente interessante, boas letras e um bom arranjo instrumental.

E por que eu me refiro ao cenário nacional? Ora, por diversos motivos: primeiro por ser o país em que eu vivo, segundo porque eu cresci ouvindo O Rappa, Os Paralamas do Sucesso, Charlie Brown Jr, Legião Urbana, Jota Quest, Skank, Los Hermanos e hoje, além de ver o Rock regredindo - no pior sentido da palavra- vejo Luan Santana ganhar um troféu de melhor cantor do ano!(QUAL O CRITÉRIO QUE ELES UTILIZARAM?) O brasileiro e sua vocação para eleger quem não está à altura de ser eleito. Só a brava gente brasileira para criar tais prêmios...

 Bem, agora vamos falar de Rock e vamos começar por um dos pontos fundamentais, em uma banda de Rock: solos e arranjos em guitarra. Andei voltando a ouvir Engenheiros do Hawaii e não é porque eu queira ficar preso ao passado, é porque não há muitas opções no presente. Se há, não ganham visibilidade.

Sabemos que as músicas dos Engenheiros do Hawaii nem sempre foram as de harmonias mais complexas, mas em Rock, os arranjos e os solos por vezes são mais chamativos e nesse ponto, a discografia da banda é farta. O que o que eu vou falar aqui não será novidade, mas talvez nostalgia. Porque é triste você ver que o Rock nacional, após tantos bons exemplos, não dá mais os mesmos bons frutos.

Ouçam músicas como A Perigo, A Promessa e Algo Por Você, do álbum Simples de Coração (1995), que verão do que falo.Não se faz mais músicas como antigamente, mas não mesmo. Por falar em arranjo, alguém já ouviu o álbum Filmes de Guerra Canções de Amor (1993)? Para mim, é um dos melhores da banda, nota dez em arranjos e harmonia (sem falar nas letras e solos de músicas como Mapas do Acaso e Muros e Grades).

Um amigo meu, por exemplo, enquanto trocava umas idéias com o Ivan, do Dr. Sin, na ocasião do Rock Campina, disse que ao perguntar a ele sobre a divulgação de um trabalho novo de Rock ele falou que, do jeito que o mercado fonográfico está, certamente o YouTube seria uma ótima opção.É inegável que uma rede social tão importante como o YouTube seja mesmo uma boa opção e muita gente fez e faz nome por meio dela. O problema é o mercado fonográfico brasileiro, que lança uma porcaria atrás
da outra! Hoje, se você ligar o rádio, se pergunta...

Algumas pessoas dizem que a televisão, ao mostrar muita ''imoralidade'', ''baixaria'' e tudo quanto é coisa ''ruim'', cria uma cultura onde tudo que é banal cai nas graças das massas e passa a ser mais tolerável. Pode ser -pelo menos até certo ponto- verdade. Mas por outro lado, nada disso teria tanta audiência se o público não fosse perfeitamente adequado a essas porcarias.

O problema é que se valoriza muito, em meio aos diferentes (e inerentes) estratos da nossa sociedade e nos mais diferentes meios de comunicação, a ignorância, a pornografia, a língua sem regras. E depois, as mesmas pessoas que dão audiência a essa corja toda, sentimentalóide, manipuladora, permissiva e débil, se assustam e fingem se importar ao ver o país mergulhado em roubos e violência (continuem elegendo e dando audiência a quem não presta e verão onde iremos parar).


No meio de toda essa bagunça e música de má qualidade virando mania nacional, realmente ''eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem que não passa por aqui, que não passa de ilusão'' e pode ser ilusão, bobagem, mas eu gostaria de ver a juventude do nosso tempo mostrar que sabe fazer música, tocando um Rock que realmente dê gosto de ouvir e cujas letras sejam mais que narrativas em versos sem coesão (considero a Pitty um bom sinal). Realmente, cheguei a conhecer só a reta final do bom Rock brasileiro, mas foi suficiente para guardar em mim seus ideais, sua autenticidade.

''Muito prazer, me chamam de otário
Por amor às causas perdidas''.

E se você, assim como eu e muitos outros, não aguenta mais jogarem todo esse lixo na sua cara e nos seus ouvidos, não tenha medo de dizer que não vai fazer parte dessa bagunça. Acho que, como disse Carlos Maltz, não precisamos culpar essa garotada que anda tocando porcaria (no Rock inclusive!) porque talvez a culpa seja desse modelo de sociedade que não tem mais o que dar; por outro lado, não deveríamos ter medo de criticar abertamente e parecermos antigos diante de uma juventude tão exaurida.