Em 2010,
ingressou na Universidade Estadual da Paraíba uma turma de Ciências Biológicas
com pouco mais de quarenta integrantes. Pouco se sabia sobre cada um deles e
muito menos qual rumo tomariam a partir dali. Alguns viam o curso como uma
segunda opção, outros, como uma primeira opção para descobrir algo novo para
suas vidas e outros, finalmente, eram completamente apaixonados pelas
investigações acerca de como a vida acontece. É muito difícil saber o que levou
cada um a chegar ali. O que se descobriu depois foi que eles ainda tinham
desafios muito maiores do que poderiam imaginar e não importava o quanto foi
difícil terem chegado ali, fato é que precisariam ainda de muito amadurecimento
e força para seguir daquele ponto em diante.
A força de que
precisavam, foi construída lentamente a partir do método mais eficiente que a
humanidade já conheceu para gerar força: a união. É estranho o modo como a
união acontece, porque ela começa de diferentes formas, mas eles tiveram tempo
para testar várias delas. Logo de início, as afinidades emergem e formam-se
logo pequenos grupos de pessoas parecidas, que pensam parecido, que têm um
jeito parecido de fazer as coisas. De repente, aquele pessoal estranho ia se
tornando cada vez mais familiar até um ponto em que estarem juntos era parecido
com estar em casa. Logo, aquelas pessoas de diferentes histórias, lugares
e personalidades estavam juntas de verdade e entre elas formavam-se preciosos
laços de amizade.
O difícil
mesmo foi o tal amadurecer. Porque cada um já tinha caminhado muito, aprendido
muito, avançado muito em sua vida, mas já que estavam começando a viver algo
diferente, muita coisa estava para ser reaprendida e só quem passa por isso
sabe o quanto é difícil. Logo cedo, os problemas foram surgindo e com isso
alguns daqueles que ali chegaram com tanto gás, com tanta vontade, foram aos
poucos deixando a turma. Alguns descobriram que não era bem aquilo que estavam
buscando, outros nem tiveram a oportunidade de descobrir, porque a vida às
vezes parece escolher o caminho por nós. Se a união fazia a força de cada um, parecia
que cada despedida levava um pouquinho de cada um também. Talvez o mais bonito
foi ver aqueles que mesmo não tendo certeza, conseguiram encarar esses desafios
de frente e ganhar a recompensa de cada passo dado.
“Eu posso estar completamente enganado,
Eu posso estar correndo pro lado errado,
Mas a dúvida é o preço da pureza
E é inútil ter certeza”
(Humberto Gessinger)
Os tropeços
foram incontáveis. Uns por causa própria, outros, não dependeram do esforço
daqueles pequenos aprendizes que por ali passavam no intuito de dar o seu
melhor num meio onde o seu melhor às vezes parecia ser nada. E quantas foram as
vontades frustradas, as renúncias, os desabafos que ficaram guardados por já terem
aprendido que eram tão pequenos e que já era muita ousadia estar ali. Afinal, o
que são todas essas subjetividades perante a necessidade do cada um se manter
de pé? Diante de tantos desafios? Nem por isso foram silenciados, nem por isso
se renderam. A vontade de ir mais longe estava inacreditavelmente viva por todo
esse tempo, a coragem de mudar era o que impulsionava aqueles seres em constante aperfeiçoamento e aprendizado.
Aquela turma,
de um certo modo, não é mais a mesma. Aquelas noites sofridas, mas cheias de
sentido, agora serão algo ausente das nossas rotinas e eternamente presentes no
que hoje somos. Ela está eternizada em nossas memórias, mas esses cinco anos de
convivência agora estão dando lugar a novos passos. Abrem-se novas portas, embora
por essas mesmas portas vejamos cada um retomar seu caminho com o que leva de
nós, deixando ao mesmo tempo algo de si conosco. Memórias compartilhadas. E já
que ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, quem de nós passar novamente
pelos corredores do CCBS, verá que de tudo aquilo, estarão presentes apenas as
saudades de uma turma muito boa, da qual fizemos parte e que não mais
está por ali.
Será mesmo
possível dizer que fazem parte de nós aqueles que estão longe?
Podemos dizer que aquilo que já não está mais ali faça parte de nós? Claro que
sim! É por isso que dizem que durante aquele tempo estávamos sendo formados:
como as esculturas, que assumem suas formas em parte pelo que já possuíam, em
parte pelo que foi dali retirado, porque o aperfeiçoamento inclui sempre
algumas perdas. Parece que, como lição final, aprendemos que é preciso ver que
ficaram para trás aquela correria, aquelas aulas assistidas com cansaço e
aquelas conversas curtas, onde aprendíamos um pouco mais sobre e com o outro,
para chegarmos finalmente à compreensão de como tudo foi valioso em sua
simplicidade. Foram chances únicas que tivemos para crescer e é bom que
tenhamos levado o máximo, porque de todo esse tempo, nenhum segundo se
repetirá.
Amizades
feitas na fila da matrícula, momentos preciosos compartilhados. Risos no
laboratório, noites em claro, on line, trocando ideias e sugestões para
melhorar nossos trabalhos, tardes intermináveis de estudo e exaustão. Que
entretanto terminaram! Mais rápido do que imaginávamos. Mas que deixaram marcas
reais em todos nós, que deixaram em nós o que somos agora.
Todas as
palavras do mundo seriam insuficientes para descrever tudo isso que vivemos,
que fizemos e que agora relembramos. Mas eu não poderia deixar de escrever algo
a essas pessoas que tanto contribuíram nessa caminhada. Não poderia deixar de
relembrar e agradecer o quanto foi importante o apoio durante tempos tão duros.
Este texto pequeno e simples é uma homenagem a cada um de vocês, a cada um de
nós, aos nossos familiares e amigos que nos apoiaram durante essa guerra e
também aos que infelizmente não permaneceram entre nós para presenciarem daqui
de perto este tão pequeno e importante passo que demos.
Particularmente,
eu poderia ter percorrido outros caminhos e escolhi esse, mas não fiz nada
disso só por mim. Fiz também pela minha família, que me fez descobrir o gosto
pelos estudos e pela natureza, fiz também para vocês, meus colegas, para que
cada palavra minha dita em sala, num trabalho, numa discussão, não fosse
simples falácia, mas uma tentativa de somar nossos conhecimentos, de hibridizar
nossas perspectivas e ajudar no nosso avanço (perdoem se eu não consegui, mas
eu realmente tentei fazer isso!). Fiz por um ideal; o ideal de que a
transformação do mundo passa necessariamente por uma transformação em nós
mesmos. É a nós que temos que mudar, melhorar. E o que fiz por mim, foi fazer o
que eu tanto amo: Biologia. Sim, há muitas coisas que amamos nesse mundo, mas
para mim, a biologia é um elo entre todas e entre mim e vocês.
E que fique
aqui registrado, que pela UEPB passou uma turma de guerreiros, de estudantes
ousados e barulhentos, marrentos até e que durante cinco anos eles lutaram com todas
as forças contra limitações pessoais e institucionais, contra toda forma de
subestimação, desafios e costumes inveterados. Que eles, apesar de muita
dificuldade, alçaram vôos longos em ventos inconstantes para alcançar novos
horizontes, servindo para mostrar que estavam errados aqueles que diziam que
eles não iriam longe. Talvez, você ainda veja algum deles na UEPB (no mestrado,
para os que farão por lá, ou então os que deixaram o TCC para o semestre
seguinte –como eu, que com o TCC nos últimos ajustes, resolvi mudar minha linha
de pesquisa e entrar de cabeça na Genética)... São só detalhes. De todo modo,
esse povo é muito especial, uma mistura de grandes mentes e fortíssimas personalidades,
que levarei comigo para onde eu for. Muito obrigado, aos amigos e professores,
todos foram fundamentais e cada um, inesquecível!
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