segunda-feira, 25 de março de 2013

Argumento 3 – A evolução é um fenômeno de populações.





                                                                              Herbert Araújo

Diferentes populações de musgos (Bryophyta) crescendo
sobre um único galho de um cajueiro. A ocorrência de mui-
tos indivíduos próximos, torna a disputa por recursos (por
exemplo, espaço) mais acirrada, o que muito contribui para 
a eliminação dos indivíduos menos aptos a competir.

       É bom entendermos que as diferenças que surgem na evolução são verificadas a nível de indivíduo, mas indivíduos não evoluem biologicamente: as populações evoluem à medida que uma linhagem de indivíduos que herdam características favoráveis à sua sobrevivência, sobrevive melhor em determinado ambiente e se torna cada vez mais numerosa, podendo eliminar os demais, conviver com eles, ou separar-se da população de origem (deixando de cruzar com os demais e se reproduzindo apenas entre eles mesmos).

       Os meios pelos quais pode haver separação entre tais grupos podem ser barreiras geográficas, barreiras fisiológicas (surgirem pequenas diferenças nas substâncias de atração sexual, por exemplo), ou adoção de comportamento destoante entre os grupos (como diferentes épocas de reprodução). É a partir daí que pode haver o surgimento de novas espécies, pois, quando esses grupos se separam, a seleção natural (sobrevivência do mais apto) faz com que em cada grupo, sobrevivam os mais adequados a seu modo de vida, e, se cada grupo está em condições de vida diferentes, as adaptações e seleção produzirão organismos diferentes para viverem em tais condições, eliminando os mais vulneráveis.

       Bem, mas como poderiam surgir tais diferenças entre seres da mesma espécie? Diferenças individuais, são verificadas em todas as espécies. Na espécie humana, por exemplo, vemos que nenhum dos nossos amigos é exatamente igual aos demais nos aspectos físicos (diferenças fisiológicas não são tão visíveis). Isso está diretamente ligado ao processo evolutivo: a criação de raças domésticas ou de variedades de plantas funciona por um princípio difícil de realizar e simples de entender. Quando em meio a uma criação ou plantação surgem indivíduos com características desejáveis aos donos, eles muitas vezes são selecionados para se reproduzirem separadamente e por esse método se produz uma nova linhagem de animais ou plantas. Fenômenos como mutação e cruzamentos criam nova informação genética constantemente e isso permite o surgimento constante de características novas.

       Como ocorre essa seleção na natureza? Nós, animais, formamos pares com os exemplares que mais agradam nossos “critérios” de seleção e também isso faz com que os animais formem grupos separados (é uma tendência, não há lei infalível em biologia, como afirma Mayr). Esse processo -orientado por comportamento ou substâncias de atração- é chamado de seleção sexual. Além disso, na natureza, os seres passam por frequentes períodos de escassez de recursos e isso elimina indivíduos menos aptos à competição (tudo isso é seleção natural). Assim se altera a composição das populações, pois sobrevivem os mais aptos e com maiores chances de se reproduzirem (herdeiros de caracteres favoráveis). Se esses processos dividirem a população, deverão surgir linhagens diferentes que tendem a se afastar sempre mais; se a população continua unida com entrecruzamentos constantes, não será criada uma nova linhagem ou espécie, apenas haverá a adaptação e microevolução daquela espécie já existente.

Argumento 4


segunda-feira, 18 de março de 2013

Argumento 2 – O surgimento de uma espécie não é tão absurdo como se supõe.

















                                                                                             Herbert Araújo

        Gosta de cachorros? Gostando ou não, estamos cercados por vários deles e se você acha que as espécies não mudam no decorrer do tempo, lembre-se que nem sempre existiu Pit Bull. Outro ponto importante: se você acha difícil que raças se tornem novas espécies, lembre que uma nova espécie surge quando ocorre o isolamento reprodutivo entre raças... Você consegue imaginar o acasalamento entre um enorme cachorro São Bernardo e um “Chihuahua”?

        Se sabemos que esses animais são todos cachorros (e definir uma espécie neste caso é bem complicado), o que há de tão absurdo em afirmar que duas espécies de lobo ou mesmo que lobos e cachorros tenham um ancestral comum? Afinal a diferença entre duas espécies de lobo é bem menor que a que existe entre as raças de cães, tanto para a forma do corpo (morfologia), como para o funcionamento (fisiologia) comportamento (instinto) e uma série de aspectos variáveis para cada grupo, como ecologia, história natural... Sejamos breves.  
Maracujá silvestre (Passiflora cincinata), trepadeira da família 
Passifloraceae. 
      Às vezes, o surgimento de uma nova espécie não precisa de muito tempo. Um grupo de organismos pode ser isolado dos seus ancestrais quase instantaneamente, de uma geração para outra, por meio da poliploidia, um processo muito bem descrito. Simplificando: cada espécie tem um numero, tipos e tamanhos específicos de cromossomos (DNA condensado) no núcleo de suas células. A reprodução sexuada é um ciclo com duas fases: em uma, há um lote de cromossomos (fase haploide); em outra, dois lotes (fase diploide) e na transição entre as duas fases pode surgir uma geração com múltiplos desses números, quer um exemplo?

       Repolho e rabanete têm nove cromossomos cada. Cruzando estas espécies, se produz um híbrido com 18, que gera descendentes com 36 cromossomos em cada célula de seus tecidos. Tais descendentes são geneticamente e reprodutivamente incompatíveis com seus ancestrais (não podem retornar a nenhuma das espécies anteriores), mas é um grupo de organismos férteis e autossuficiente como espécie. Foi a poliploidia que gerou quase metade de todas as espécies de plantas floríferas e uma quantidade menor de espécies animais.

     No Brasil, estudos filogenéticos apontam para a poliploidia e divergência evolutiva em parentes selvagens do maracujá (pelo menos seis espécies já estudadas) na zona da mata da Região Sul e é comum ocorrer reprodução cruzada em mulungu (Erytryna spp.), gênero de plantas muito comum na Zona da Mata e que também podem ser encontradas na Caatinga.

Argumento 3


CONHEÇA UMA PESQUISA NA ÁREA:
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/13704/000626430.pdf?sequence=1

sexta-feira, 15 de março de 2013

SER DE VERSO (Beto Rocha)


Sou o que sou,desse jeito
impermanente e imperfeito
Sou lá,sou aqui,sou onde estou
Cria em ação,pensando que criou


Sou tão igual,querendo ser diferente
Sou semelhante,sou aparente
Sou seu "mermão" 
Sou meu "oxente" 

Sou paz e guerra 
Sou sem terra,sou amor 
Sou branco,preto,colorido 
Sou cem cores,sou incolor


Sou passageiro,sou imprevisível 
Sou mutação,sou perecível 
Sou homem,mulher,sou menino 
Sou distração,achado e perdido 


Sou distante,peregrino 
Instantâneo,pequenino 
Sou imenso,um abismo
insistente e insípido 


Eu sou coragem,coração
Sou batida,percussão 
Sou rima,prosa,poesia 
Sou melodia e canção 


Sou inquieto,indireto 
perigoso e pérfido 
Sou sapatão,sou sem chinelo 
Eu sou veneno e sou remédio 


Sou novato,sou veterano 
plano passado,um novo ano 
Sonhando verdades,vivendo enganos 
Sou mais do mesmo 
Um mano humano 


Sou diversão,sou pós-moderno 
Sou bactéria,sou universo 
Dúvida e certeza 
Confusão da beleza 
Sou sereno ser de verso

segunda-feira, 11 de março de 2013

Argumento 1 – A Evolução não nega a existência de Deus.




                                                                                         Herbert Araújo

Por ser produto da razão humana, o conhecimento científico não confirma a fé, nem a anula. Os próximos textos da série falarão da evolução em termos científicos (embora em linguagem simplificada). Mas é bom deixar esse ponto claro. Da mesma forma que a ciência não pode provar a existência de Deus, também não pode negá-la.

A evolução biológica é um processo natural que acontece na Terra desde os tempos em que a humanidade nem sequer existia, muito menos havia elaborado alguma definição do que seria fé. Portanto, se você acredita que Deus existe e, por isso, não acredita na evolução das espécies, deveria parar para pensar se realmente compreende todas as faces da questão, pois uma ideia não anula a outra.

Para lembrar que a doutrina religiosa não obriga ninguém a rejeitar o caráter mutável da natureza, cito que por exemplo, o Vaticano, por meio do Catecismo da Igreja Católica, fala acerca da criação, que “Ela é criada em estado de caminhada (in statu viae) para uma perfeição última a ser ainda atingida” e complementa: “Deus não somente dá às criaturas o existir, mas também a dignidade de agirem elas mesmas, de serem causas e princípios umas das outras” (CIC; 1ª Parte, Segunda Seção, Capítulo 1, Art. 1, Parágrafo 4, V.).

Os evolucionistas, por sua vez, também não são necessariamente ateus. Por exemplo, quando Darwin apresenta no seu famoso “A Origem das Espécies” um breve esboço histórico do pensamento evolucionista, cita naturalistas que trataram a evolução como sendo uma continuação da criação, como o geólogo Owen (Nature of limbs, em 1849) e até mesmo o religioso W. Herbert (o “reverendo Herbert”), que afirmou, com base experimental, nos seus “Cruzamentos Hortícolas” que as espécies surgem a partir das novas variedades (leiam mais no argumento 2).

O processo evolutivo propriamente dito será discutido nos próximos textos. Por hora, me contento em lembrá-los que ninguém é obrigado a aceitar as ideias evolucionistas, mas peço que não transformem suas convicções religiosas ou sua fé, seja qual for, numa barreira à compreensão da ciência. Mesmo porque o conhecimento científico e a fé são, por método e origem, muito diferentes, e não devem jamais ser confundidos, nem precisam entrar em conflito. 

PARA VER O 2º ARGUMENTO, CLIQUE AQUI.