terça-feira, 21 de maio de 2013

Argumento 10 – O Sentido que a Evolução dá à Vida.




    
                                                                     Herbert Araújo

       Por algum motivo, provavelmente por orgulho, egocentrismo, ou seja lá qual for o termo adequado e com a finalidade de defender a si próprio, à sua família ou suas “propriedades”, a humanidade tem manifestado em diferentes culturas a tendência a construir barreiras que os separe de alguma coisa ao seu redor ou mesmo dos seus semelhantes. Instinto territorialista e gregário é muito comum nos mamíferos, sobretudo nos primatas (ordem de mamíferos à qual pertencemos), mas isso não explica todas as barreiras que construímos.

       Alguns muros, como os de Tijuana e Berlim, são visíveis e é mais fácil de serem criticados, mas alguns muros invisíveis, como o preconceito racial, xenofobismo e antropocentrismo são muralhas gigantescas que separam povos, culturas e, o que a meu ver é ainda mais grave: separa a humanidade da natureza. Sim isto é muito mais grave, pois em parte é por esse preconceito que hoje se discute a possibilidade de destruição, não de um único povo ou etnia, mas de toda a espécie humana e também de muitas outras espécies além dos nossos recursos naturais, que são fundamentais em qualquer sistema político e econômico. No meio acadêmico, o discurso de que estamos em uma crise planetária é cada vez mais frequente. O termo “crise planetária” pode gerar confusão. Não é o planeta que corre perigo, mas sim nós mesmos e precisamos urgentemente repensar qual o nosso lugar no meio ambiente.

       Realmente, desde que o arsenal nuclear de incontáveis megatons não seja detonado, o planeta deve estar a salvo pelos próximos quatro bilhões de anos, enquanto o sol estiver existindo. Mas a vida no planeta está sofrendo constantes agressões que infelizmente só viemos reconhecer quando começaram a prejudicar a nós mesmos. A Terra já passou por cinco grandes espasmos de extinção em massa. Períodos em que a biodiversidade do planeta foi quase completamente aniquilada e, graças aos processos evolutivos, novas espécies foram repovoando o planeta e se adaptando aos “novos” ambientes. A mais famosa extinção em massa ocorreu no Cretácio, quando desapareceram dinossaouros, pterossaouros bem como répteis e invertebrados marinhos, definindo o fim da Era Mesozóica (a “era dos répteis”). Com menos répteis, o planeta passou a ser o palco da irradiação dos mamíferos, o grupo mais importante da atualidade (Era Cenozóica). Mas esse não foi o único, e em ordem cronológica, levando em consideração o período geológico, eis as grandes extinções em massa da história da Terra: Ordoviciano (440maa), Devoniano (365maa), permiano (245maa), Triássico (210maa) e Cretáceo (66maa).

       Todos esses processos de extinção foram responsáveis por criar novas condições de vida, novos ambientes, novos mares, cadeias montanhosas como a Cordilheira dos Andes e o Himalaia, a separação dos continentes, a criação de Madagáscar, as mudanças climáticas globais e, é claro, novas espécies ou modificações no corpo e na mente delas (evolução dos instintos), foram acompanhando o ritmo do planeta, o que nos leva à inevitável conclusão de que a nossa história enquanto espécie está eterna e completamente ligada a toda a história da biodiversidade terrestre, e quando defendemos essa biodiversidade, defendemos o banco genético e os recursos naturais renováveis que estruturaram física e mentalmente nossa espécie, que nos mantém dependentes de todas as outras (afinal estamos em uma teia alimentar), que formaram os solos em que fundamos nossas nações e que sustentam nossos sistemas econômicos.

       Mas infelizmente, a humanidade tem pavor de se ver como um animal, como uma espécie viva, biológica, o homem sente orgulho de dizer que não é mais natural, que gerou “progresso” desfazendo os elos que a natureza levou mais de três bilhões de anos para aperfeiçoar, conectando por meio de uma infinita série de tentativas, erros e acertos e se valendo das forças físicas e energias fundamentais os átomos, moléculas, células, tecidos, indivíduos, populações, comunidades, ecossistemas... Até hoje, como e quem somos, se explica num contexto ambiental que não está separado da nossa cultura, pois cada cultura se desenvolveu em um suporte ecológico, a partir de um banco genético e se valendo de recursos naturais diferentes (dependendo da escala temporal que adotemos), isso, em parte explica porque populações humanas desenvolveram-se de modo tão diferente em diferentes regiões e até mesmo, em menor parte, como os povos ocuparam seus espaços (por favor, não estou afirmando que ela explica tudo, a mente humana tem uma bagagem cultural muito evidente!), afinal, todos sabemos que a varíola foi tão importante quanto a arma de fogo para aniquilar os ameríndios (de história imunológica mais recente e mais vulneráveis a doenças), mostrando mais uma vez como a nossa dimensão biológica é fundamental até mesmo para os processos culturais.


       Tais questões são muito amplas, não dá para colocar todos os pontos aqui, quem sabe em uma outra postagem? Eu só gostaria de esclarecer que esta série de textos não teve a intenção de criticar nenhuma religião, sei que é um tema polêmico, mas minha verdadeira intenção aqui foi trazer alguns pontos sobre a evolução que geralmente são esquecidos quando se debate sobre o assunto. As reflexões foram só para deixar o texto mais leve. E eu gostaria de relembrar algo que a humanidade vem esquecendo: somos histórica e ecologicamente ligados ao nosso planeta e a todas as demais espécies que nele habitam e como numa teia de aranha, de qualquer ponto se pode sentir uma perturbação em qualquer outro ponto. Muito obrigado a todos que em algum momento pararam para ler meus textos!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Argumento 9 – A Evolução Humana (como a de outros grupos) é uma Coleção de Dados que Questionam o Design Inteligente.





                                                                           Herbert Araújo

“Primeira regra na história da ciência: quando uma ideia nova, grandiosa e convincente é proposta, um exército de críticos logo se reúne para tentar derrubá-la. Tal reação é inevitável, pois é assim que os cientistas trabalham: agressivos ainda que respeitadores das regras do discurso civilizado. (...) Sendo humana, a maioria dos cientistas se conforma perfeitamente ao Princípio da Certeza, que afirma que, quando há evidências favoráveis e contrárias a uma crença, o resultado não é uma diminuição, mas um aumento da convicção de ambos os lados.” (EDWARD O. WILSON, 1994).

       O particular fato de deixar a introdução desta postagem por conta do grande Wilson (que junto com Mayr e Darwin, considero autoridades imprescindíveis quando tratamos de ecologia ou biologia evolutiva sem perder de vista a crítica e a construção epistemológica), deu-se pelo motivo de tratarmos aqui do que pode gerar maior polêmica acerca da evolução, que é a evolução da espécie humana, no que faço questão de deixar bem claro (como venho fazendo), qual o posicionamento que eu defendo como sendo o mais consistente cientificamente, mas sem achar que vou com isso encerrar o debate, pois, se depois de tanta pesquisa científica bem feita que levantou evidências anatômicas, ecológicas, bioquímicas, geológicas, paleontológicas, etológicas... E tão real que hoje chega a nós pelos supermercados, farmácias, indústrias e universidades sub o termo geral de biotecnologia (junto com a engenharia genética), não foi suficiente para demonstrar para uma parte dos intelectuais (muitas vezes leigos em evolução e ecologia) o quanto é real a transformação, especiação, especialização e evolução (macro e micro) dos seres vivos, não sou eu que vou realizar tal proeza, com dez textos curtos e resumidos! Estou apenas tentando trazer à discussão uma parte dos argumentos evolutivos que, por dolo ou falta de conhecimento mesmo, são geralmente omitidos quando se critica a evolução biológica.

       Aqui não irei explicar tudo, mas também não vou omitir o design inteligente, que pode ser um belo exemplo da agressividade supracitada, uma vez que tal corrente “científica”, não se contentando em ser o grupo que defende apaixonadamente uma ideia “científica” pouco apoiada pela ciência, vem algumas vezes recorrendo à justiça nos Estados Unidos (Martins, 2001) para retirar conteúdos evolucionistas do currículo formal e colocar conteúdo criacionista, pois uma vez que cientificamente o criacionismo fracassou em se tornar a explicação mais aceita, começaram a querer brigar no tribunal, e não mais por meio de um discurso científico autêntico (toda teoria que sucumbe sempre terá alguns defensores no futuro, mas a teoria que for mais coerente é que vai permanecer como referência ou se tornar um paradigma científico, um parâmetro confiável que orienta outros estudos). Como o tema da evolução humana tende a se estender, vou ser bem sucinto ao descrever a proposta do design inteligente, afirmando que essa proposta de explicação para a origem das espécies sugere, por exemplo, que o perfeito ajuste entre os diversos componentes da natureza (fluxos organizados de energia, adaptação morfológica dos seres vivos às suas formas de vida e a complexidade da organização bioquímica dos sistemas vivos, sobretudo os microscópicos, seriam o resultado de um projeto inteligente, logo, uma evidência em favor do criacionismo, pois Darwin não entendia como as células funcionavam).

       Um professor de bioquímica da Universidade Lehigh, na Pensilvânia (Behe), lançou um livro que se tornou muito famoso e cujo título é “A Caixa Preta de Darwin”. Neste livro, o autor afirma que os conhecimentos de sua disciplina suplantam o evolucionismo e que, uma vez que sistemas bioquímicos são compostos por várias partes interdependentes e que, já que todas as partes são necessárias para o seu funcionamento, tais sistemas só podem vir à existência completamente prontos, impossibilitando uma evolução de tais sistemas, uma vez que eles não poderiam existir de forma simplificada, Behe os denomina “sistemas irredutivelmente complexos” e tais sistemas, que também podem representar órgãos, são apontados como um dos argumentos mais fortes do design inteligente.

       Em primeiro lugar, repito que afirmar que descobertas de um único campo científico tenham plenos poderes para anular o conhecimento de outras áreas, é um reducionismo desmedido, é muita pretensão! Em segundo lugar, repito também que dados bioquímicos são uma pequena parte da enorme construção teórica que sustenta o evolucionismo, mas se é para recorrer a eles, vamos lá... A anemia falciforme é doença humana de caráter hereditário que resulta de uma mutação que altera o sexto aminoácido da β-globina (proteína do sangue). Assim, ao invés desta proteína ter o ácido glutâmico na sexta posição da cadeia, ele é substituído pela valina, o que altera o dobramento da proteína e gera hemácias (células vermelhas do sangue) com deformações que as fazem lembrar foices - falciforme significa em forma de foice.

       Os indivíduos homozigotos para o gene da anemia falciforme (que possuem a dose dupla do gene) possuem a doença em sua forma grave e apresentam um complexo quadro de complicações em sua saúde, algo evidentemente prejudicial à sua sobrevivência. Por outro lado, os heterozigotos (“gene em dose única”) apresentam uma forma da doença praticamente assintomática. O curioso nessa história, é que as hemácias falciformes apresentam maior resistência ao protozoário causador da malária e, por isso, mesmo que a capacidade de transportar oxigênio seja menor (que o normal) nos portadores da doença na forma branda, essa característica pode ser vantajosa em regiões onde a malária é uma ameaça à saúde humana. Lembram que no “Argumento 3” foi mencionado que na prática, a evolução é uma flutuação populacional que tende a caminhar para o aumento da linhagem que tem características vantajosas para um contexto ambiental e por isso começa a aumentar em número dentro da população? Pois bem, o gene causador da anemia falciforme é encontrado com maior frequência nas regiões onde são comuns os casos de malária. Simplificando, onde há mais malária, há mais gente com essa informação genética e dependendo da época em que ocorrem os surtos da malária, pode haver ainda um aumento da frequência do gene causador da anemia falciforme. Logo, estamos diante de um exemplo bem nítido de aspectos ambientais que alteram a estrutura de populações humanas em nível observável. Não é design inteligente, pois é uma doença que pode gerar complicações até letais. Ademais, se essa doença ocorre também em regiões onde a malária não é um risco à população, também aqui o design inteligente se mostra incapaz de explicar o fenômeno tão bem como o faz a seleção natural.

       Ainda temos como evidência bioquímica o citocromo c (uma outra proteína, com pouco mais de cem aminoácidos), cujas sequências de aminoácidos, quando comparadas, mostram outro exemplo,  no mínimo, digno de menção: o citocromo c dos humanos é igual ao do chimpanzé, se comparado com o das baleias, diferem em oito posições, se comparado ao citocromo c de uma ave, a diferença se verifica na posição de treze aminoácidos e assim segue. Se as proteínas revelam aspectos genéticos e esta sequência retrata os parentescos evolutivos há muito conhecidos, temos mais uma forte evidência bioquímica da evolução humana, mas vamos sair desse mundo microscópico, pois a evolução tem mais coisa para ser pensada.

       Um dos problemas mais graves que vejo no design inteligente é que ele só explica as coisas que já estão ajustadas, o que o torna meio redundante ou mesmo estático, pois traz exemplo daquilo que já está ajustado e diz que é resultado de um projeto inteligente, mas não explica os desajustes que existem na natureza, o que a evolução biológica explica muito bem. Só para mostrar algumas lacunas (para não denominar crateras, buracos negros, muito obscuros mesmo!) no design inteligente, vou lembrar que um dos pontos fundamentais do design inteligente é falar que as estruturas existentes na natureza (como os órgãos, por exemplo) apresentam forma perfeitamente adequada à sua função. Será mesmo? Então o que dizer de formas que seriam adequadas a uma função que não cumprem? Não estou falando de erros genéticos não, falo de morfologia típica de espécies mesmo e dou exemplos: nos caranguejos, os olhos são sustentados por dois pedúnculos (pequenos suportes alongados para os olhos), entretanto, há espécies nas quais os pedúnculos estão lá, mas não há olhos! É como um tripé sem luneta. O que há de inteligente em uma criatura apresentar suporte para os olhos e não apresentar olhos nesses suportes? É como jogar a luneta fora e guardar o tripé! Posso citar um exemplo ainda mais belo: como o design inteligente explica o fato de uma espécie de rato das cavernas ser cego e ter olhos enormes? Adiante, citarei características anatômicas humanas que também representam uma barreira ao design inteligente.

       Enquanto pesquisava sobre o desing inteligente, vi uma afirmação muito triste em um pdf com o título “Evolucionismo Darwinista ou Projeto Inteligente?” (Augusto Pasquoto era o nome que constava): “a teoria darwinista é cega, isto é, não admite finalismo na evolução dos seres vivos. Tudo acontece às cegas, sem planejamento. As mutações ocorrem ao acaso e a seleção natural entra em ação quando aparece alguma mutação favorável”. Em primeiro lugar, o mais inteligente aqui é realmente admitir que não haja finalidade inteligente em colocar olhos enormes num animal cego (a menos que se prove o contrário), pois já que ele vive num ambiente escuro, onde a visão não é necessária à sobrevivência, nem mimetismo nem camuflagem poderiam justificar isso! Ora, a seleção natural permitiu esses órgãos inúteis e sem finalidade sim, pois eles também não fazem mau nenhum ao rato e o mesmo se pode afirmar sobre o pedúnculo do caranguejo, a seleção natural só elimina aquilo que  é prejudicial. Uma linhagem de caranguejo sem olho pode viver muito bem sem olhos se seu ambiente permite isso, tanto é que ele vive assim. Em segundo lugar, por falar em cegueira, antes de afirmar que “a teoria darwinista é cega”, acho que esse autor deveria ter observado que se as mutações ocorrem ao acaso, não significa que a evolução não faça sentido ou que a evolução ocorra por acaso. Preciso repetir que ela é orientada por aspectos ecológicos muito bem compreendidos e descritos? (repito, leiam ecologia e evolução mesmo, antes de falar essas grosserias, senão o pessoal vai encontrar essas apologias em pdf e vai achar que é trabalho científico!).

       Outro fato que dá um bom apoio à evolução é a existência dos órgãos vestigiais (órgãos primitivos que são atrofiados por não possuírem mais utilidade). São citados alguns pela anatomia humana: apêndice vermiforme no intestino, que na espécie humana é bastante atrofiado e pode ser retirado por procedimento cirúrgico, sem danos ao organismo, enquanto que essa mesma estrutura se encontra desenvolvida em herbívoros, onde abriga microrganismos mutualísticos que degradam a celulose; cóccix, porção caudal da coluna vertebral considerado um vestígio de cauda e, consequentemente, mais um sinal de parentesco com outros animais, como macacos, por exemplo; a prega semilunar, encontrada no ângulo interno do olho, que constitui um vestígio da membrana nictante de certos anfíbios, répteis e mamíferos.

       Do mesmo modo que há órgãos que se apresentam atrofiados por não mais desempenharem suas funções originais, também há órgãos que, antes existindo para uma função, se tornaram mais elaborados e passaram a desempenhar outra função, permitindo inclusive explorar outros ambientes. O exemplo que trago aqui é o da bexiga natatória, que pode servir para mostrar que um órgão, mesmo sendo altamente especializado para sua função, pode ter evoluído e passado a exercer uma função diferente. A bexiga natatória é um órgão que em peixes ósseos, serve para contribuir com a flutuabilidade no meio aquoso, uma vez que ao armazenar gás diminui a densidade do corpo, foi a partir dessa estrutura que evoluíram os pulmões dos demais vertebrados, uma vez que há peixes pulmonados, as espécies (de qualquer grupo de animais) que apresentam pulmões não apresentam bexiga natatória, e os que a apresentam (peixes ósseos), não possuem pulmões. Digo mais, e tanto o pulmão como a bexiga natatória, surgem no embrião a partir de uma evaginação do tubo digestório, dado um tanto contundente, uma vez que o desenvolvimento embrionário recapitula a evolução de um animal e as suas relações filogenéticas.

     Bem, ao iniciar o texto sobre a evolução humana, meu intuito era descrever algumas etapas de desenvolvimento de algumas cronoespécies e morfoespécies que nos ajudariam a ilustrar as etapas que se sucederam na nossa evolução, mas como eu precisei esclarecer algumas objeções que andam fazendo sucesso, acabou não restando espaço (reparem que este texto está três vezes maior que os demais). No entanto, se ainda não ficou suficientemente claro o que a evolução tem a dizer acerca de nossa espécie, vou apenas mencionar mais dois últimos detalhes: a) A espécie humana não é um “macaco superevoluído", mas sim uma linhagem distinta de primatas que teve sua própria história evolutiva, assim como todos os outros animais, primatas ou não, e todos os demais organismos de modo geral (caso não entenderam, releiam o “Argumento 3”);  b) Se o seu orgulho ainda não lhe permite se reconhecer primata, veja que os primatas são caracterizados por alguns caracteres morfológicos, como cinco dedos nas mãos e nos pés, dedo polegar da mão mais ou menos oponível de acordo com a espécie, massa encefálica proporcionalmente mais desenvolvida que nos outros mamíferos, olhos dispostos na parte frontal da cabeça e uma forte tendência à postura bípede. Qual destas características você, caro leitor, humano e racional, não possui? Viu? Você não é um macaco, você é um mamífero, da ordem dos primatas, um ser humano.

Argumento 10



segunda-feira, 6 de maio de 2013

Argumento 8 – O Paradigma Evolucionista (Além de Darwin).




                                                                   Herbert Araújo - Postagem Revisada

       Do ponto de vista científico, a evolução não é uma teoria, é um paradigma (sistema coeso de teorias que se complementam, falando de maneira simples), e aqui nos deparamos com um ponto importante na nossa discussão acerca da evolução: não é um pensamento criado por Darwin, não se resume às afirmações de Darwin, e o trabalho de Darwin não explica tudo que concerne ou subsidia a evolução, o que ele fez foi apresentar uma teoria muito ampla e consistente que se tornou a maior referência em termos de evolução por tratar da maneira até hoje mais satisfatória a permanência, variabilidade e o surgimento das espécies dentro de um contexto ecológico muito bem estruturado: a variação e origem das espécies por meio da seleção natural.

       Entre os antecessores de Darwin (ou de sua publicação), podemos encontrar grandes naturalistas que já haviam questionado o surgimento das espécies. O mais conhecido deles é Lamarck, que foi o primeiro a despertar de fato a discussão acerca da origem das espécies em seus trabalhos “Philosophie Zoologique”, de 1809 e “Historie Naturelle des Animaux sans Vertèbres”, trazendo pontos importantes como a relevância dos cruzamentos, as relações entre espécies e variedades e a famosa “Lei do uso-e-desuso”, vastamente criticada, o que ofuscou os demais aspectos do seu trabalho. Em 1818 Dr. W. C. Wells publicou o livro “Dois Ensaios sobre o Sentido Rudimentar da Visão”, no qual defendia o princípio da seleção natural, o qual incluía seu artigo sobre o caso de uma mulher branca cuja pele apresentava certa semelhança com a pele negra, lido em 1813 diante da Royal Society. Além deles, podemos citar os trabalhos do Deão Herbert (1822, citado no “argumento 1” desta série), Grant (1826), Frake (1821, propondo que todos os seres vivos descendiam de uma forma primitiva) e o famoso Herbert Spencer, inspirador de Augusto dos Anjos e citado na poesia do mesmo, em 1852 publicou um ensaio comparando as teorias de criação e desenvolvimento dos seres vivos, concluindo que as espécies sofreram alterações, segundo ele, devido às influências ambientais. A lista poderia ser mais completa, mas vamos ser o mais simples possível...

       A publicação do livro “On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life” (título por nós conhecido como “A Origem das Espécies”) em 1859, recebeu a contribuição de trabalhos de importantes naturalistas como Fritz Müller (que obteve importantes dados em favor da teoria de Darwin estudando a biodiversidade do Brasil) e Alfred Russel Wallace, que independentemente, chegou às mesmas conclusões que Darwin praticamente ao mesmo tempo (Quem quiser saber os demais naturalistas que contribuíram com Darwin, sugiro que leia a obra dele próprio).

       Após esse período, a evolução por meio da seleção natural vem recebendo inúmeras contribuições e também servindo de reforço a inúmeros outros estudos, desde os trabalhos de Mendel, até Dobzhansky, Mayr, McArthur e Wilson... uma lista enorme de geneticistas, zoólogos, médicos, ecólogos, antropólogos e muita gente, muita construção teórica que, pode não valer como verdade absoluta e incontestável, mas não deve ser pensada como se fosse uma simples teoria baseada em suposições isoladas que caíram nas graças do público. Estamos falando de ciência, e a ciência não se faz nem se critica com base em poucos aspectos, com base em métodos inconsistentes.

      Afinal, como disse o grande Edward O. Wilson “Gênio é o trabalho de muitos associado ao nome de poucos para facilitar a memória”. Ou seja, uma injustiça, como a que eu temo ter feito aqui, pois admito que na lista de pesquisadores que construíram e constroem o paradigma evolucionista, caberiam muitos outros grandes nomes que ainda não estão aqui. Foi só um breve e muito simples texto.

Argumento 9