quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Caixa Preta da Amazônia: a ignorância gera perdas incalculáveis para o Brasil.

Herbert C. S. Araújo

      O Field Museum, de Chicago, Estados Unidos, apresentou recentemente os resultados de uma pesquisa feita por sua equipe de cientistas na Amazônia brasileira que representa um grande avanço na compreensão dessa floresta tão grandiosa e tão agredida. A matéria exibida no site do Field Museum sob o título “THE AMAZON’S BLACK BOX” traz dados importantes sobre os quais faremos um breve comentário aqui no Metalink, afinal, o Brasil perde bilhões a cada ano simplesmente por não cuidar da sua biodiversidade e nem ao menos conhecê-la adequadamente.

Os patriotas que me perdoem, mas nós, brasileiros, deveríamos agradecer essa “invasão” estadunidense na floresta amazônica. O Field Museum está de parabéns! Essa é uma iniciativa que não deve causar indignação, mas sim servir de exemplo (entre tantos outros) para que vejamos que se os estrangeiros estão a tanto tempo investindo pesado em pesquisas nas nossas florestas, é porque elas são importantes mesmo, e o Brasil tem que valorizar a pesquisa científica voltada para seu patrimônio biológico se não quiser ficar mais para trás do que já está. Enquanto o governo brasileiro tenta destruir uma vasta área de floresta ao construir a usina de Belo Monte, no Pará, para suprir uma demanda que é mais do interesse empresarial que da matriz energética propriamente dita, os estrangeiros, que são sempre mais inteligentes, vêem uma riqueza muito maior: o patrimônio biológico, que é a riqueza de um país na forma de biodiversidade.

VAMOS AOS DADOS...

                Primeiro os números: segundo o site, o número estimado de árvores na Amazônia se aproxima do número de estrelas da Via Láctea – MEIO TRILHÃO DE ÁRVORES!   O número de espécies também é bem grande: 16 000 ESPÉCIES de árvores. Relacionando alguns outros números, podemos ver a ameaça de extinção: metade de todas as árvores na Amazônia pertence a apenas 227 espécies, o que significa, em termos ecológicos, uma diversidade total de apenas 1,4%. Pois é, a diversidade da Amazônia é bastante baixa, falando nestes termos, embora possamos falar que é uma floresta rica em número de espécies. Sim, mas o que isto significa?
                Quer dizer que enquanto algumas espécies de árvores possuem uma grande população, existem muitas espécies que apresentam poucos exemplares (chamados de “indivíduos” na ecologia de populações) e o estudo revelou que na floresta amazônica existem 6 000 espécies de árvores que correm risco de extinção porque suas populações apresentam menos de 1000 indivíduos por espécie. Mil árvores é um número muito pequeno para representar uma espécie. Na verdade, uma população desse tamanho, com uma área de distribuição restrita, pode desaparecer em um único desmatamento (na criação de uma nova fazenda ou uma hidrelétrica, por exemplo).
                Falando de maneira ainda mais clara: só com base nesses dados já temos seis mil espécies de árvores amazônicas que apresentam-se em condições de entrar para a “Red List”, que é a Lista de Espécies Ameaçadas, da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

Quanto vale, em dinheiro, esse monte de planta?

                Os valores totais são realmente incalculáveis, mas tomemos um único exemplo, o exemplo da indústria farmacêutica. Eu assisti há poucos dias a uma palestra de um pesquisador da área da fitoquímica (que estuda os componentes químicos das plantas), o Prof. Dr. Emídio Cunha e ele falou que a última vez que o seu grupo de pesquisa isolou um fármaco de uma espécie de planta (e elas possuem muitas substâncias úteis), a patente foi vendida por 50 milhões de libras esterlinas mais um milhão por ano durante vinte anos! Isso é só o valor imediato de uma única substância de uma planta! Lembra que a Amazônia possui meio trilhão de árvores e 16 000 espécies? Essas árvores podem gerar muito dinheiro sem ser derrubadas. Sem falar nas espécies animais!

      E a energia elétrica? Bem, vamos fazer de conta que o sol que irradia aqui no Brasil e os ventos que sopram não sejam suficientes para que se complemente nossa matriz energética. Por que construir uma usina daquelas no meio da Amazônia? Ta na cara que por questões de acesso, capacidade de armazenamento a longo prazo, declividade e condições ambientais diversas, aquela usina foi projetada para o pior lugar possível! Não há solução tecnológica capaz de compensar a perda irreversível de informação e biodiversidade, sem falar também nos incontáveis conflitos sociais gerados.

E como seria se o Brasil também investisse mais na pesquisa?

Bem, de uma única vez, foram reveladas por pesquisadores brasileiros (em um esforço heroico e raro num país como o nosso, que não é de grandes investimentos na pesquisa, ao menos não tanto quanto se necessita) esse ano 15 novas espécies de aves descobertas na Amazônia! Foi esforço coletivo do Impa (Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), de Belém, Museu de Zoologia da USP e Museu de Ciência Natural da Universidade Estadual da Louisiania (LSUMNS), Estados Unidos. Pois é, os Estados Unidos sempre tomam parte nas pesquisas e temos mais é que agradecer, não é por acaso que o Field Museum lidera nas pesquisas com árvores amazônicas: talvez, os brasileiros que trabalham para o Field Museum, dificilmente receberiam condições tão boas para trabalhar se dependessem do governo brasileiro, já que a maior iniciativa para o estudo da botânica se deu no Período Imperial, com a construção do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (esta república, como disse Fritz Müller, não é melhor que o império, do ponto de vista científico).
                É corriqueiro os brasileiros reclamarem calorosamente do interesse dos estrangeiros na Amazônia, mas não se dão ao trabalho de pensar no descaso que nós, brasileiros, temos com uma questão tão crucial para o desenvolvimento científico, político e econômico do país, que é conhecer melhor o nosso incalculavelmente rico patrimônio biológico. Eu concordo que a gente não deve entregar a Amazônia para os estrangeiros, mas se não fosse por eles, A GENTE NEM TERIA IDEIA DA IMPORTÂNCIA DA AMAZÔNIA, AFINAL, O BRASIL É O CÚMULO DO ATRASO E DESVALORIZAÇÃO DA PESQUISA CIENTÍFICA.

Nenhum comentário: