segunda-feira, 11 de março de 2013

Argumento 1 – A Evolução não nega a existência de Deus.




                                                                                         Herbert Araújo

Por ser produto da razão humana, o conhecimento científico não confirma a fé, nem a anula. Os próximos textos da série falarão da evolução em termos científicos (embora em linguagem simplificada). Mas é bom deixar esse ponto claro. Da mesma forma que a ciência não pode provar a existência de Deus, também não pode negá-la.

A evolução biológica é um processo natural que acontece na Terra desde os tempos em que a humanidade nem sequer existia, muito menos havia elaborado alguma definição do que seria fé. Portanto, se você acredita que Deus existe e, por isso, não acredita na evolução das espécies, deveria parar para pensar se realmente compreende todas as faces da questão, pois uma ideia não anula a outra.

Para lembrar que a doutrina religiosa não obriga ninguém a rejeitar o caráter mutável da natureza, cito que por exemplo, o Vaticano, por meio do Catecismo da Igreja Católica, fala acerca da criação, que “Ela é criada em estado de caminhada (in statu viae) para uma perfeição última a ser ainda atingida” e complementa: “Deus não somente dá às criaturas o existir, mas também a dignidade de agirem elas mesmas, de serem causas e princípios umas das outras” (CIC; 1ª Parte, Segunda Seção, Capítulo 1, Art. 1, Parágrafo 4, V.).

Os evolucionistas, por sua vez, também não são necessariamente ateus. Por exemplo, quando Darwin apresenta no seu famoso “A Origem das Espécies” um breve esboço histórico do pensamento evolucionista, cita naturalistas que trataram a evolução como sendo uma continuação da criação, como o geólogo Owen (Nature of limbs, em 1849) e até mesmo o religioso W. Herbert (o “reverendo Herbert”), que afirmou, com base experimental, nos seus “Cruzamentos Hortícolas” que as espécies surgem a partir das novas variedades (leiam mais no argumento 2).

O processo evolutivo propriamente dito será discutido nos próximos textos. Por hora, me contento em lembrá-los que ninguém é obrigado a aceitar as ideias evolucionistas, mas peço que não transformem suas convicções religiosas ou sua fé, seja qual for, numa barreira à compreensão da ciência. Mesmo porque o conhecimento científico e a fé são, por método e origem, muito diferentes, e não devem jamais ser confundidos, nem precisam entrar em conflito. 

PARA VER O 2º ARGUMENTO, CLIQUE AQUI.

6 comentários:

JOSÉ CARLOS ALBUQUERQUE disse...

De acordo.

Rafael Campos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafael Campos disse...

Como cê disse q aceita críticas, vou fazer a minha: "Por ser produto da razão humana, o conhecimento científico não confirma a fé, nem a anula". Discordo. O conhecimento científico é, de certa forma, muito capaz de confirmar a fé, embora não podendo anulá-la totalmente. Ex: há 4 anos Moisés escreveu que o universo surgiu do nada. Stephen Hawking, assim como grande maioria esmagadora dos cientistas modernos, chegaram a conclusão que o universo surgiu do nada, graças a teoria do Big Ban, e isso é só um dos milhares de exemplos.
"Mesmo porque o conhecimento científico e a fé são, por método e origem, muito diferentes, e não devem jamais ser confundidos, nem precisam entrar em conflito". Não penso que o conhecimento científico seja de uma natureza totalmente oposta à fé. Se vc define fé como a confiança em Deus, tudo bem eu concordo, ainda em parte, com a afirmação. Muito embora fé também signifique que tudo o que sabemos não pode ser provado num sentido puro e estrito, isso eu aprendi com Kant. Até porque você não definiu fé e colocou de uma maneira totalmente genérica, podendo indicar qualquer tipo de crença. O mesmo aconteceu com o conceito de "Deus"', podendo este com "D" podendo ser usado pra definir o Deus islâmico e Judeu.
E para concluir eu acrescento a sentença clássica: "a fé cristã é uma fé racional".
No mais gostei do texto. Um abraço.

Herbert Araújo disse...

Meu Deus! Pense numa crítica!!! Kkkkkkkkkk Rafael, antes de mais nada, não só aceito como agradeço sinceramente seu comentário. Primeiro, porque isso significa que você leu atentamente meu texto e isso me alegra; segundo, porque você sempre faz suas colocações com muita lucidez e conhecimento, o que incontestavelmente contribui com a reflexão. No entanto, distinguir ciência e fé não é a mesma coisa que afirmar que elas sejam opostas, além disso, a ciência pode até revelar dados e descrever fenômenos dos quais podemos sugerir, supor ou afirmar uma correspondência com um relato bíblico ou discurso religioso de qualquer natureza (e é em parte com base nisso, que afirmo que descrever o processo evolutivo não é de todo incoerente com a ideia de existir um Criador desse universo em mudança - lembremos a famosa interpretação de Santo Agostinho ao Gênesis, que sugere um desenvolvimento da vida e do universo em “etapas”, mas, assim como os teólogos atuais, não faz uma interpretação literal, exceto a corrente fundamentalista, claro). Mas a fé (enquanto crença, em sentido genérico mesmo, e não estrito, o que limitaria o texto a um discurso apologético cristão, nem em sentido jurídico, onde significaria prova, veracidade ou algo semelhante...), a fé no sentido de crença (genérica sim, porque embora tenha citado um documento da minha igreja, não estou falando só para cristãos, mas sim considerando a pluralidade de crenças e tradições, afinal escrever Deus com “D” se deve ao fato de que isso apenas remete à crença em um Deus único, aspecto comum ao Islã ou à tradição Judaico-Cristã, sem restringir-me a nenhuma igreja, mas apenas para fazer alusão à narrativa da criação, da cultura Judaico-Cristã), é extremamente subjetiva, seja porque acreditar em Deus é algo que está intimamente ligado ao “eu” e à mente e espírito do crente, seja porque a fé também se constrói enquanto cultura, enquanto tradição pela colaboração de muitas mentes, dos filósofos aos leigos, tudo isso, só vem demonstrar o caráter subjetivo da fé, mesmo ela sendo racional, pois até a racionalidade está repleta de subjetividades e é por isso que pode haver divergência entre dois discursos racionais (tratando ou não de fé). E é justamente essa subjetividade intrínseca à fé que permanece impassível de ser mensurada, descrita ou testada pelos métodos objetivos da ciência. Cada cientista faz uma opção subjetiva (baseada em lógica, tradição, emoção, revelação etc...) sobre se acredita em Deus ou não e isso não o torna nem mais nem menos cientista, pois sua ciência dependerá do método que ele aplica. A objetiva teoria do Big Bang, foi e é complementada pelo trabalho de ateus e foi proposta pelo padre Lemaître, e seus defensores, não provaram nem refutaram a fé em Deus (ateus continuaram ateus, e a teoria do padre cientista foi aceita pelos ateus cientistas), pois fé é subjetiva e o conhecimento científico visa a objetividade. O próprio trabalho de Kant serve de exemplo: ele admite abertamente, que sua metafísica está baseada no pressuposto de que Deus existe! Ou seja, antes de mais nada, ele coloca diante de si sua crença em Deus e, junto com isso, ele constrói sua obra filosófica, sua ciência. Por isso, a racionalidade da obra de Kant não torna sua fé isenta de subjetividade. Um cientista que não acredita em Deus, também consegue construir um discurso racional e uma obra científica, pois sua descrença também é subjetiva, enquanto sua ciência é objetiva. E por mais racional que seja a fé, sua subjetividade não pode ser completamente apreendida, nem mensurada, nem descrita, nem confirmada, nem refutada pela objetividade da ciência, que pode até sondá-la, mas jamais chegará a alguma conclusão ou prova (nos termos objetivos da ciência) acerca dos aspectos mais subjetivos intrínsecos à fé.

Herbert Araújo disse...

Bem, quando fiz o comentário anterior, confesso que fiz na frente do computador, sem parar para fazer releituras. Agora, após uma breve consulta quero falar que considero contraditório discordar da afirmação "Por ser produto da razão humana, o conhecimento científico não confirma a fé, nem a anula." citando justamente o filósofo que afirmou: "O Ser supremo mantém-se, pois, para o uso meramente especulativo da razão, como um simples ideal, embora sem defeitos, um conceito que remata e coroa todo o conhecimento humano; a realidade objetiva desse conceito não pode, contudo, ser provada por este meio, embora também não possa ser refutada." (Immanuel Kant - Crítica da Razão Pura)

janaina disse...

Totalmente de acordo, ótimos argumentos. Realmente a ciência não é NECESSARIAMENTE (ou totalmente) adversa à fé cristã. Ao meu ponto de vista,a ciência não veio pra dizer que a bíblia está mentindo,mas talvez pra explicá-la já que a fé é subjetiva e a ciência, objetiva; a fé diz(não supõe,acredito eu que a linha entre fé e verdade é demasiado tênue) e a ciência diz como, dá detalhes, EXPLICA.