segunda-feira, 22 de julho de 2013

Educação, Ética e Opção Política.

                                                                   Herbert C. S. Araújo

“Se, portanto, queremos Igrejas e Estados bem ordenados e florescentes e boas administrações, primeiro que tudo ordenemos as escolas e façamo-las florescer, a fim de que sejam verdadeiras e vivas oficinas de homens e viveiros eclesiásticos, políticos e econômicos. Assim facilmente atingiremos o nosso objetivo; doutro modo, nunca o atingiremos.” (Comênio, apud. Silva, sd.)

Se, por um lado, a proposta de Comênio mostra a importância da educação para a organização e desenvolvimento da sociedade, por outro nos aponta boas pistas para se compreender não apenas o quanto a educação está inseparavelmente ligada à política, mas também o quanto ela pode ser tratada de diferentes formas conforme o projeto político ao qual ela esteja ligada ou mesmo submetida. Assim, a proposta de Comênio vem trazer inclusão social e democratização do processo educativo porque esse era seu projeto de sociedade, essa era a sua filosofia, mas nem todos os povos, nações etnias ou mesmo indivíduos almejam o mesmo projeto de sociedade, uma vez que tais projetos mudam temporal e espacialmente, decorrendo daí uma vasta gama de ideias acerca da educação que sempre terão por finalidade algum interesse político, por mais democrático ou rígido que seja. Logo, à medida que se discutem diferentes propostas pedagógicas que surgiram ao longo da história, nós devemos ter em conta que estão sendo discutidos diferentes ideais de sociedade.

Então, mais importante que nos preocuparmos com a ordem cronológica na qual surge cada proposta pedagógica, devemos antes de tudo dar ênfase ao significado que cada uma delas adquire quando confrontada com as sociedades contemporâneas e seus problemas mais profundos. Dito isto, se por um lado podemos dizer que a prática instrucionista idealizada por Herbart nos parece demasiadamente impositiva (além de racionalista), por outro lado podemos compreender que muitas “escolas”, sobretudo as de natureza privada, acolhem com muito interesse os modelos tradicionalistas e o instrucionismo.
Ora, se realmente acreditamos que professores são profissionais conscientes, logo reconheceremos que tal postura não é assumida por acaso. Dito de outra forma, a escola tem um papel social e tem um papel político, por isso, quando pensamos em diferentes metodologias de ensino, em diferentes práticas pedagógicas, modelos de ensino ou formas de planejamento da atividade docente, não devemos nos limitar à dualidade do certo ou errado, mas assumirmos a responsabilidade ética de escolher a qual projeto político nossa prática docente vai se vincular.

Outro aspecto interessante da educação é que seu caráter ideológico está muitas vezes ligado aos interesses das minorias privilegiadas. Falando abertamente, há grupos que se valem da educação com a finalidade explícita de exercer poder e domínio, afinal...

"O conhecimento dá poder (...). O poder dos antigos ou dos sábios, o dos feiticeiros ou dos curandeiros, nas sociedades arcaicas, é um poder dos superconhecedores. O poder sacerdotal das sociedades antigas é um poder de superconhecedores. O poder tende a monopolizar o conhecimento, para conservar o monopólio de seu poder, e assim o conhecimento se torna secreto, esotérico. Assim, portanto, os Grandes Sacerdotes, Iniciados, Universitários, Cientistas, Experts, Especialistas tendem a se constituir em castas arrogantes, dispondo de privilégios e de poderes." (Morin, in Diegues, 2001).

Dewey, por sua vez, recomenda que o conhecimento seja produto da ação dos aprendizes, que movidos pela sua curiosidade busquem o conhecimento para satisfazerem seus próprios anseios e interesses, o que constitui algo fundamental no processo de formação de indivíduos livres, capazes de assumirem a atitude de aprendizes. Essa capacidade de agir e aprender, nos leva a reconhecer também como o processo de formação se constitui importante na caracterização de um cidadão capaz de suas escolhas.

Piaget e Vigotsky também merecem destaque pelo fato de terem demonstrado as influências que o meio tem sobre o processo de aprendizado, transformando a escola não apenas num “celeiro” mas também num espelho do meio, ou seja, embora um autor dê maior ênfase ao meio social enquanto que para o outro o foco tenha sido os objetos (ou o meio físico), ambos demonstram como a aprendizagem está ligada à vivência no mundo.  Mas ainda há que se considerar algo mais: não basta estar no mundo, é também necessário estar com o mundo, como defende Paulo Freire. Para Freire, o ato de educar deve ser uma atitude de amor e respeito pela humanidade do outro. E esse outro tem o direito de ser livre, de ser respeitado, de tomar suas decisões e de estar com o mundo e modificá-lo por meio de sua ação, mas antes de tudo é necessário ajudá-lo no processo de conscientização, ajudá-lo a educar-se no sentido mais amplo do termo, e em sentido amplo, educar significa socializar.


Mentes aprisionadas, dominadas e alienadas dificilmente conseguirão discernir e decidir livremente seus rumos ou os da sociedade. Só um cidadão consciente, está apto a assumir a responsabilidade ética e política de decidir para qual ideal de sociedade ele quer contribuir.

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