sábado, 3 de maio de 2014

Chuva no Brejo

Igreja Matriz em Lagoa Seca, no Brejo paraibano, durante
a chuva. 

                                   Herbert Araújo

      Esperada por alguns, temida por outros, ela chegou. Mudança no tempo, na rotina, nas roupas que vestimos, na paisagem que enxergamos. Vem a chuva e não sabemos ainda com que freqüência ou intensidade ela continuará nos visitando, mas seus primeiros sinais já despertam um misto de esperança e precaução. 

         Na Microrregião do Brejo da Paraíba, a umidade vinda do Oceano Atlântico que é trazida para o Planalto da Borborema (geralmente sob influência da Zona de Convergência Intertropical), converte-se em chuva e molha sua rainha, Campina Grande, bem como as cidades vizinhas. Elas passam agora a apresentar prenúncios da chegada de uma característica comum e ao mesmo tempo especial: o agradável frio das serras, que aos poucos já se faz sentir pelos seus habitantes.

Historicamente e por experiência, sabemos que as chuvas na porção leste da Região Nordeste se concentram, com algumas variações anuais, entre o outono e o inverno (março a julho, às vezes persistindo em agosto). Este período, em que o tão agradável frio nos visita, requer de nós uma série de cuidados com nossa saúde, nossas estradas, nossas casas, enfim, com quaisquer problemas ambientais que possam emergir dessas águas. Muitas vezes, os jornais noticiam coisas do tipo “Chuva provoca deslizamento de terra...”, mas não deveríamos culpar a chuva pelos problemas na nossa infra-estrutura urbana ou outros causados por diversas imprudências nossas, como as cometidas nas estradas (que também requerem mais atenção na chuva).



Na agricultura, especialmente para o pequeno agricultor, que é maioria por aqui e não possui maiores tecnologias para sua produção, a água da chuva faz toda a diferença e sem ela ele pouco pode fazer para converter a água do seu suor em lavoura produtiva e gado nutrido. A fisiologia das plantas nos ensina que mais água transpirada é mais produção de matéria viva, de biomassa, de alimento para todos nós. A experiência nos ensina que na falta de chuvas, morre muito gado nos rebanhos nordestinos, criadores e agricultores mudam de destino, rumam em direção austral por não terem outros horizontes quando as chuvas não chegam do Leste, nem do Oeste, nem do Norte.

A chuva não é um problema, problema é a má qualidade das nossas ruas, nossa falta de planejamento urbano, de saneamento básico e de justiça social (em qualquer cidade, qualquer tempo). Problemas são as nossas limitações em todas as circunstâncias. Perigoso, é o casamento da má qualidade das estradas com a imprudência dos motoristas ou do desmatamento das nossas florestas com a falta de opções de moradia: a chuva apenas baixa a poeira levantada pela nossa rotina e que nos impede de ver o quanto precisamos desses ventos úmidos, frios e desafiadores que agora irrigam o Brejo.

          E longe dos nossos olhos, em outros brejos, nas lagoas, nas várzeas, ou no Brejo de Altitude, anfíbios coaxam à noite no prelúdio de sua proliferação, as aves, em sua sinfonia matinal, executam a música de fundo que desperta os embriões das sementes a deixarem sua dormência árida para nos devolver o esperançoso verde das folhas. O verde musgo, o verde lodo, o verde da grama, o verde das plantas, o verde das algas... Todos filhos das mesmas águas. Criações, criadores, produtos e produtores que misturam a esperança com o verde que se espalha com os primeiros sinais de chuva. E quando ela vier, que seja bem vinda! 

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