Os Sentidos e a Percepção da Realidade
Será a nossa percepção do mundo condizente com a realidade que nos cerca, ou projetamos para o mundo o que a nossa mente produz? Talvez, ambos sejam verdade. Os únicos canais que ligam o ambiente externo ao sistema nervoso são os órgãos sensoriais. As sensações, são parte de nossa experiência subjetiva e aparecem quando os sinais captados do ambiente pelos órgão são enviados a regiões específicas do cérebro, gerando a percepção de um fenômeno subjetivo (processamento) estritamente ligado ao estímulo captado. Nossos referenciais internos são uma parte importante no processo de percepção do ambiente.
Uma experiência estranha
“Cortamos a borda do olho de um girino e, sem tocar no nervo óptico, giramos o olho até completar 180 graus. Deixamos que o animal operado complete seu desenvolvimento larval e sua metamorfose até se tornar adulto. Então mostramos um verme ao nosso sapo de laboratório, tomando o cuidado de cobrir o olho virado. Ele tira a língua para fora e acerta em cheio o alvo. Repetimos o experimento, desta vez cobrindo o olho normal. Vemos então que o animal projeta a língua com um desvio de exatamente 180 graus. Ou seja, se a presa está abaixo e na frente do animal, este projeta sua língua para cima e para trás. Toda vez que repetimos o teste, o sapo comete o mesmo erro, fazendo um desvio de 180 graus (...).
O experimento revela de maneira dramática que para o animal não existe acima e abaixo, ou frente e trás, em relação ao mundo exterior, como existe para o observador que faz o estudo. Existe apenas uma correlação interna entre o lugar de onde a retina recebe uma determinada perturbação e as contrações musculares que movem a língua, a boca, o pescoço e, em última instância, todo o corpo do sapo.” (A Árvore do Conhecimento; Maturana & Varella -1995).
Um outro ponto demonstrado nesta experiência (entre tantos que poderíamos discutir), é que o comportamento e reação a estímulos ambientais depende da recepção e processamento desses estímulos pelo organismo. Qual a abrangência de tais processos?
Recepção sensorial
Tudo começa com as células receptoras (que ocorrem nos órgão sensoriais), cujas membranas são especializadas em reagir a um tipo específico de energia (luz, som, eletricidade, magnetismo...), que constitui a modalidade sensorial. Ou seja, parte do processo depende da energia oriunda do ambiente, parte da nossa sensibilidade. Com base na forma de energia aos quais são sensíveis, dá-se nome aos tipos de receptores: quimiorreceptores, mecanorreceptores, eletrorreceptores, termorreceptores e fotorreceptores, por exemplo.
Receptores internos (interoceptivos) respondem a sinais de dentro do corpo, como os proprioceptores, que monitoram a posição dos músculos e das articulações. Sistemas receptores internos, são importantes para fornecer ao cérebro informações sobre o estado do corpo (como o estado químico ou térmico) e sua posição no espaço.
Por exemplo, um inseto não possui estatocisto (estrutura para a percepção da gravidade que ocorre em muitos invertebrados) e em parte, ele orienta-se sobre sua posição com base na posição de suas articulações (um referencial interno). Por ouro lado, os insetos e alguns outros artrópodes são sensíveis à luz polarizada devido a um arranjo específico das microvilosidades do rabdômero (presentes nos omatídios dos seus olhos como parte dos fotorreceptores), o simples detalhe do arranjo perpendicular entre essas microvilosidades dá a esses animais a capacidade de se orientarem no espaço pela polaridade da luz, à qual somos, por assim dizer, insensíveis.
Às vezes, subestimamos o modo como nossos órgãos dos sentidos, sistema nervoso, nosso cérebro e nossa mente podem interferir na maneira como enxergamos o mundo lá fora. É muito comum que nós mostremos o nosso ponto de vista como sendo o “certo” ou a “realidade”. Normal. O que não podemos esquecer, é que um ponto de vista é a visão de um ponto; simplesmente podemos estar iludidos por sensações e uma série de fatores internos (fisiológicos, psicológicos ou mesmo culturais) que afetam nossa percepção do mundo. Mais uma vez, a natureza nos mostrando como podemos aprender com ela.
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