sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Pica-paus: Modos de Vida e Ameaças


Pica-pau
Em plena atividade: essa foto aí, mostra a vista  a
vista privilegiada (vizinhos sendo observados pela janela)!
A morte de um abacateiro próximo à janela da minha casa revelou uma grata surpresa: se por um lado a árvore não dará mais abacates, parece que nela irão nascer filhotes de pica-paus. Já faz um tempo que observo a nidificação dessas adoráveis aves em alguns pontos aqui no sítio, entre o fim do inverno e começo da primavera, mas observá-los da janela da cozinha é muito mais agradável. Por outro lado, isto me traz à mente dois pontos importantes: primeiro, é mais uma evidência do quanto o desmatamento pode afetar essas aves, não só por falda de alimento, mas porque os pica-paus precisam de árvores velhas (vivas ou mortas) para a nidificação. A outra questão é ainda mais preocupante: será que se estas aves estão se aproximando tanto das habitações humanas já é um reflexo da falta de nicho e habitat nas matas?

Ornitologia, ou seja, o estudo de aves, não é a minha especialidade, mas observo aves desde pequeno e de certa forma tenho sempre feito um pouco de “birdwaching”. A cor vermelha sobre a cabeça indica se tratar de um macho (vermelho geralmente sinaliza virilidade nas aves com dimorfismo sexual), e talvez, esse ninho não seja ainda definitivo, já que algumas aves fazem ninhos que acabam não sendo utilizados – o tempo dirá, mas pela frequência com que esses aí (sim são dois: um com penacho vermelho na cabeça e outro sem) visitam e trabalham no ninho, em breve, teremos filhotes aparecendo.

Vejam só, nosso agradável vizinho, sendo observado e percebendo isto. Foto: Janaína Araújo


Bem, vamos entender por que devemos nos preocupar com eles: os pica-paus são conhecidos por terem o hábito de perfurar, com seu bico e crânio belamente adaptados, os ramos secos de árvores dentro dos quais há larvas de insetos se desenvolvendo, as quais constituem seu alimento. Para encontrá-las, essas aves comumente se valem de boa audição e assim que acham seu alimento, começam com seu “toc-toc” característico, perfurando a madeira e capturando as larvas. Encontrar alimento não é o mais difícil, porque mesmo as árvores menores e até mesmo os arbustos oferecem insetos se desenvolvendo no interior de seus ramos mortos. O problema realmente é que eles nidificam no interior de troncos ou galhos velhos de árvores e por isso necessitam de árvores grandes o suficiente para abrigar uma “família”, o que está se tornando cada vez mais raro, já que com o desmatamento, temos cada vez mais arbustos e menos árvores compondo a vegetação secundária (que ressurge depois do desmatamento).

Os ninhos feitos próximos às habitações humanas, podem ser um sinal ainda mais claro de que está se consumando algo  que já suspeitamos há tempos: a redução da vegetação nativa põe em risco cada vez mais aquelas espécies que necessitam do abrigo das matas para sua manutenção. Muitas aves, mesmo podendo se alimentar em áreas antropizadas ou de vegetação mais perturbada, encontram dificuldade para se reproduzirem na ausência de árvores de grande porte (nessa lista, podemos incluir rapineiras, psitacídeos e os próprios pica-paus), seja por fazerem seus ninhos no interior dos troncos, como os periquitos, papagaios, araras, etc. ou por serem ariscas e geralmente nidificarem em árvores altas (como os gaviões, milhafres, entre outras aves de rapina). Portanto, esses adoráveis vizinhos merecem atenção mais do que especial, pois além de estarem fora de seu habitat natural, o que os deixa mais vulneráveis, podem estar sofrendo pela falta de lugar para reprodução, o que é uma ameaça ainda maior.

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