Herbert Araújo
Quando se trata de registro
fóssil, duas questões são levantadas contra a evolução: primeiro, se poderíamos
chegar a alguma conclusão confiável pela mera comparação de fósseis e, segundo,
que os fósseis não seriam uma evidência da evolução, mas apenas uma prova de
que espécies foram extintas no passado. Isso merece ser discutido.
Sobre se as conclusões em que
podemos chegar pelo registro fóssil podem ser confiáveis, devemos lembrar que a
paleontologia (estudo de seres antigos) está em sintonia com a geologia (que
nos revela muitos aspectos importantes, processos passados e atuais no nosso
planeta), que por sua vez se utiliza de diversas ferramentas como, só pra citar
um exemplo, a datação por carbono radioativo (isótopo 14, ou C14),
uma contribuição importantíssima das ciências exatas para o estudo de fósseis,
que nos permite saber com precisão a idade de um fóssil com base na meia-vida
do elemento radioativo, que entra na cadeia alimentar por meio dos organismos
fotossintetizantes e passa para os demais seres vivos, vindo a diminuir de modo
constante a partir do momento em que eles morrem, o que permite calcular com
precisão a idade do corpo pela contagem da radiação beta até pelo menos 70.000
anos (a partir daí, a radiação restante não é suficiente). Os testes do C14
vêm demonstrando a veracidade das interpretações do registro fóssil.
Outro ponto importante é que, mesmo
nos fósseis mais antigos, dos quais é mais difícil saber a idade exata, o
conhecimento das eras geológicas nos ajuda a compreender a ordem de surgimento
e extinção de grupos de acordo com os fósseis de cada era. Vejamos...
Por exemplo, podemos citar o fato
de que os fósseis de espécies primitivas ocorrem em camadas pertencentes aos
períodos geológicos mais antigos, ao passo que as espécies mais derivadas
ocorrem geralmente nas camadas mais recentes, o que evidencia a sucessão de seus surgimentos.
Seria isso um mero engano decorrido da incompletude do registro fóssil? Não!
Afinal, vejamos que nas plantas, espécies de estruturas mais complexas e
desenvolvidas tendem a ser mais resistentes e maiores, o que facilita sua fossilização,
no entanto, não temos fósseis de angiospermas (grupo de vegetais mais derivados,
com flores e frutos) que ocorram em períodos mais antigos do que os primeiros
registros fósseis de pteridófitas (grupo das samambaias, plantas sem sementes).
Vejamos o registro fóssil vegetal
a partir da Era Paleozóica (as camadas mais profundas da Terra representam
períodos mais antigos). As primeiras plantas vasculares sem sementes, e relativamente
pequenas, são abundantes do período Siluriano Médio até o Devoniano Médio (desde
cerca de 425 até 370 milhões de anos); as plantas com sementes surgiram no
Devoniano Superior (há cerca de 380 milhões de anos), ao passo que as plantas
com flores (angiospermas) “só” surgiram há cerca de 125 milhões de anos.
Sabemos que idades tão distantes só podem ser medidas com valores aproximados,
muito bem, mas temos algo firmemente estabelecido nesse registro fóssil: a
ordem em que estes eventos ocorreram e os enormes intervalos de tempo que os
separam. Podemos falar em termos ainda mais claros, afirmando que se plantas
simples e relativamente pequenas deixaram registros fósseis há mais de 400
milhões de anos atrás, por que não há fósseis de grandes árvores daquela época?
Porque não existiam essas árvores naquela época, claro, elas surgiram só milhões
de anos depois, por meio da evolução!