Se considerarmos que a educação
deve contribuir para a formação de cidadãos críticos, esclarecidos, capazes de
compreender seu contexto ambiental (o que inclui a própria sociedade), capazes
de relacionar os diferentes fatores (históricos, políticos, psicológicos,
ecológicos etc.) que permeiam os diferentes aspectos de sua humanidade, ou
simplesmente, nos termos de Durkheim, que a educação cumpra seu papel de
socializar o indivíduo, devemos dar grande atenção ao Paradigma da
Complexidade, pois, como nos alerta Morin “Compreender o homem não é separá-lo
do universo, mas situá-lo nele.”.
O Pensamento Complexo
Mas o que propõe Morin? Que as
pessoas passem a saber de tudo? Conhecer tudo? Não, pois como ressalta este
autor, o importante não é uma cabeça cheia, mas uma cabeça bem feita! Isso
implica uma reforma no pensamento. Não necessariamente no conteúdo, a atenção
aqui é dada ao pensamento. De modo semelhante à passagem da visão geocêntrica à
visão heliocêntrica, que baseou-se nos mesmos elementos da visão antiga (corpos
celestes), para explicar a relação entre eles em uma compreensão nova do mesmo
sistema. Ao invés da separação, a distinção; ao invés do pensamento linear, sem
volta, um pensamento que consiga religar o início ao fim, mas não preso a um
fluxo circular e sim como uma espiral, que se expande a cada volta. Ao invés da
visão parcial, uma visão multilateral.
Um dos motivos para começarmos a
dar mais atenção à complexidade, é que estamos cercados de problemas complexos
(complexo, aqui, não significa complicado, ininteligível, mas sim algo
multilateral). Dito de outra forma, a maioria dos problemas de nossa sociedade
possui muitas faces: problemas ambientais, por exemplo, reúnem aspectos jurídicos,
históricos, culturais, perceptivos, educacionais, ecológicos (ecologia por si
só já é complexa), econômicos (se considerarmos a violência, chegamos a uma
conclusão semelhante) e todos esses aspectos nos impõem uma libertação do
reducionismo, que insiste em separar tudo e reaprender a conectar, adotando um
pensamento sistêmico.
A questão é que nossa ciência
muitas vezes caminha para uma separação das diversas áreas do conhecimento, mas
sabemos que a realidade não se limita aos modelos teóricos de uma ou poucas
ciências. Por outro lado, a própria
ciência nos mostra o caminho para essa nova visão, algumas ciências, como a
ecologia, se tornaram fundamentais na atualidade justamente relacionando
diferentes conhecimentos (da física, da química, da própria biologia e até
mesmo das ciências humanas) e isso nos trouxe uma nova e importante visão de
mundo, onde tudo está interligado.
A metodologia
A Complexidade não é uma teoria,
mas um paradigma (sistema de teorias, como define Mayr). Não se limita a
nenhuma disciplina, mas propõe a conexão entre elas (distinguir sim, separar
não).
Em se tratando de pesquisa
científica, o método dependerá da natureza do problema (cálculos, pesquisa
qualitativa, etnografia...) desde que bem planejado, descrito e que não se
perca de vista o fundamento científico e filosófico e, se mesmo assim, o procedimento
adotado não for suficiente para explicar o fenômeno em sua totalidade, pode ser
aperfeiçoado com o andamento da pesquisa (o que deve ser evitado e, para isso,
é recomendável que antes do início do estudo, o pesquisador faça uma
investigação preliminar para verificar a eficácia do seu aparato de pesquisa).
O Paradigma da Complexidade vem sendo adotado principalmente na área das
ciências humanas e ambientais, mas desde a proposição do princípio da
incerteza, na física quântica, e outros novos conhecimentos das ciências
exatas, vem se firmando como paradigma emergente de pesquisa e traz nova luz à
ciência, reorganizando e ampliando o conhecimento.
Na educação, a
Complexidade tem uma metodologia baseada na proposta de transdisciplinaridade,
uma vez que as realidades-chaves “passam por entre as fendas que separam as
disciplinas” (Morin, 2005). É bom lembrar, que a prática transdisciplinar e
interdisciplinar requerem projetos pedagógicos adequados. Os currículos devem
ser repensados nesse sentido. O conhecimento fragmentado de acordo com as
disciplinas impede frequentemente de operar o vínculo entre as partes e sua
totalidade, mas o conhecimento deve ser capaz de compreender os objetos em seu
contexto sua complexidade, seu conjunto.
É necessário, como nos incentiva Morin (2003),
fugir do engessamento dos modelos e das tentações racionalizadoras, conforme
expostas abaixo:
·
A idealização, que consiste em acreditar que a
realidade como um todo possa se reduzir a uma ideia;
·
A racionalização, ou pretensão de querer fechar,
capturar o que entendemos por realidade na ordem e na coerência anestésica de
um sistema;
·
A normatização, que elimina e combate o que é
estranho e irredutível.
Na era global, caracterizada por
problemas planetários, a educação deve formar cidadãos capazes de atuar nas
mais diferentes esferas sociais com um pensamento que sempre saiba conectar os
aspectos de sua realidade local a esse contexto global. A realidade complexa
exige a compreensão da ciência objetiva, mas também das subjetividades que estão
sempre presentes nos fenômenos sociais. Em outras palavras, o Pensamento
Complexo é um novo paradigma para uma nova sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário