quinta-feira, 4 de abril de 2013

O Paradigma da Complexidade e Sua Contribuição na Educação Formal: uma breve reflexão sobre a proposta.


Se considerarmos que a educação deve contribuir para a formação de cidadãos críticos, esclarecidos, capazes de compreender seu contexto ambiental (o que inclui a própria sociedade), capazes de relacionar os diferentes fatores (históricos, políticos, psicológicos, ecológicos etc.) que permeiam os diferentes aspectos de sua humanidade, ou simplesmente, nos termos de Durkheim, que a educação cumpra seu papel de socializar o indivíduo, devemos dar grande atenção ao Paradigma da Complexidade, pois, como nos alerta Morin “Compreender o homem não é separá-lo do universo, mas situá-lo nele.”.

O Pensamento Complexo


Mas o que propõe Morin? Que as pessoas passem a saber de tudo? Conhecer tudo? Não, pois como ressalta este autor, o importante não é uma cabeça cheia, mas uma cabeça bem feita! Isso implica uma reforma no pensamento. Não necessariamente no conteúdo, a atenção aqui é dada ao pensamento. De modo semelhante à passagem da visão geocêntrica à visão heliocêntrica, que baseou-se nos mesmos elementos da visão antiga (corpos celestes), para explicar a relação entre eles em uma compreensão nova do mesmo sistema. Ao invés da separação, a distinção; ao invés do pensamento linear, sem volta, um pensamento que consiga religar o início ao fim, mas não preso a um fluxo circular e sim como uma espiral, que se expande a cada volta. Ao invés da visão parcial, uma visão multilateral.

Um dos motivos para começarmos a dar mais atenção à complexidade, é que estamos cercados de problemas complexos (complexo, aqui, não significa complicado, ininteligível, mas sim algo multilateral). Dito de outra forma, a maioria dos problemas de nossa sociedade possui muitas faces: problemas ambientais, por exemplo, reúnem aspectos jurídicos, históricos, culturais, perceptivos, educacionais, ecológicos (ecologia por si só já é complexa), econômicos (se considerarmos a violência, chegamos a uma conclusão semelhante) e todos esses aspectos nos impõem uma libertação do reducionismo, que insiste em separar tudo e reaprender a conectar, adotando um pensamento sistêmico.

A questão é que nossa ciência muitas vezes caminha para uma separação das diversas áreas do conhecimento, mas sabemos que a realidade não se limita aos modelos teóricos de uma ou poucas ciências.  Por outro lado, a própria ciência nos mostra o caminho para essa nova visão, algumas ciências, como a ecologia, se tornaram fundamentais na atualidade justamente relacionando diferentes conhecimentos (da física, da química, da própria biologia e até mesmo das ciências humanas) e isso nos trouxe uma nova e importante visão de mundo, onde tudo está interligado.

A metodologia

A Complexidade não é uma teoria, mas um paradigma (sistema de teorias, como define Mayr). Não se limita a nenhuma disciplina, mas propõe a conexão entre elas (distinguir sim, separar não).

Em se tratando de pesquisa científica, o método dependerá da natureza do problema (cálculos, pesquisa qualitativa, etnografia...) desde que bem planejado, descrito e que não se perca de vista o fundamento científico e filosófico e, se mesmo assim, o procedimento adotado não for suficiente para explicar o fenômeno em sua totalidade, pode ser aperfeiçoado com o andamento da pesquisa (o que deve ser evitado e, para isso, é recomendável que antes do início do estudo, o pesquisador faça uma investigação preliminar para verificar a eficácia do seu aparato de pesquisa). O Paradigma da Complexidade vem sendo adotado principalmente na área das ciências humanas e ambientais, mas desde a proposição do princípio da incerteza, na física quântica, e outros novos conhecimentos das ciências exatas, vem se firmando como paradigma emergente de pesquisa e traz nova luz à ciência, reorganizando e ampliando o conhecimento.

Na educação, a Complexidade tem uma metodologia baseada na proposta de transdisciplinaridade, uma vez que as realidades-chaves “passam por entre as fendas que separam as disciplinas” (Morin, 2005). É bom lembrar, que a prática transdisciplinar e interdisciplinar requerem projetos pedagógicos adequados. Os currículos devem ser repensados nesse sentido. O conhecimento fragmentado de acordo com as disciplinas impede frequentemente de operar o vínculo entre as partes e sua totalidade, mas o conhecimento deve ser capaz de compreender os objetos em seu contexto sua complexidade, seu conjunto.

 É necessário, como nos incentiva Morin (2003), fugir do engessamento dos modelos e das tentações racionalizadoras, conforme expostas abaixo:

·         A idealização, que consiste em acreditar que a realidade como um todo possa se reduzir a uma ideia;

·         A racionalização, ou pretensão de querer fechar, capturar o que entendemos por realidade na ordem e na coerência anestésica de um sistema;

·         A normatização, que elimina e combate o que é estranho e irredutível.

Na era global, caracterizada por problemas planetários, a educação deve formar cidadãos capazes de atuar nas mais diferentes esferas sociais com um pensamento que sempre saiba conectar os aspectos de sua realidade local a esse contexto global. A realidade complexa exige a compreensão da ciência objetiva, mas também das subjetividades que estão sempre presentes nos fenômenos sociais. Em outras palavras, o Pensamento Complexo é um novo paradigma para uma nova sociedade.

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