Assim como são vários os tipos de
câncer, também são numerosos os vilões e aliados em seu combate. Sem dúvida,
uma característica marcante nos diferentes tipos de câncer, é sua capacidade de
multiplicação e de migração para outros tecidos do corpo. O que o faz assim?
O câncer é uma doença genética por estar associada a
alterações de genes específicos, mas só é hereditário quando o defeito genético
está presente nos cromossomos do pai ou da mãe e é transmitido ao zigoto.
Assim, as alterações genéticas que levam à maioria dos cânceres surgem no DNA
de uma célula do corpo durante o período de vida do indivíduo acometido.
Diz-se que células cancerosas são imortais. Enquanto células normais só perduram em determinado período de tempo em laboratório, as células cancerosas podem se reproduzir durante décadas em tais culturas.
Células normais apresentam um número limitado de divisões, ao passo que as células cancerosas dividem-se indefinidamente, o que é muitas vezes atribuído à presença de telomerases, enzimas que atuam na manutenção dos telômeros dos cromossomos (os telômeros são estruturas das extremidades do cromossomo cujo desgaste promove nosso envelhecimento). A característica mais importante de uma célula cancerosa é sua perda de controle da multiplicação, apresentando uma ausência de resposta a sinais externos que limitariam as células normais de cessarem seu crescimento e divisão.
Em se tratando de cultura in vitro (imagem acima), as células normais apresentam-se em uma única camada de células, cessando ou reduzindo seu crescimento em número logo que cobrem o fundo da placa em cultura, ao passo que as tumorais geralmente apresentam aumento contínuo, chegando a formar várias camadas de células na cultura.
Além disso, células tumorais freqüentemente apresentam aneuploidia (havendo lotes de cromossomos altamente aberrantes ou anormais), o que causa seu desenvolvimento alterado (neoplasia). Em células normais, quando há alteração do conteúdo cromossômico, uma via de sinalização geralmente é ativada, ocasionando a destruição da célula (apoptose – morte celular programada), considerando-se assim que a falha em sofrer apoptose é uma característica importante que distingue células neoplásicas de células normais.
Tais mutações podem ter importância no processo evolutivo. Em texto intitulado ''Câncer: uma nova forma de vida?'' publicado em seu blog na página on-line do jornal Folha de São Paulo, Reinaldo Lopes trata de um câncer (CTVT - tumor venéreo transmissível canino) cujas mutações vêm preservando uma certa identidade genética possivelmente há 11 mil anos. O mais impressionante é que esse câncer transmissível entre cães ''se comporta mais como um parasita semi-independente que como uma doença'' diz o jornalista científico.
Há genes que codificam proteínas responsáveis por essa perda de controle na reprodução celular. São os chamados oncogenes, genes dominantes que atuam acelerando a proliferação celular e a geração de tumores. A origem desses genes decorre da mutação de proto-oncogenes.
As células geralmente têm proto-oncogenes, que originalmente atuam
em processos normais, mas que podem ser alterados por diversos
mecanismos, como:
- Mutação que altere as propriedades do produto gênico, que com isso não pode mais desempenhar a função normal.
- Mutação em uma sequência reguladora próxima, gerando uma produção excessiva do produto gênico.
- Um rearranjo cromossômico pode deslocar uma determinada sequência de DNA anteriormente localizada distante seja deslocada para uma região muito próxima a um gene, também podendo alterar a natureza do produto gênico.
Em todos os casos, a atividade normal dos proto-oncogenes
é afetada, e por isso eles se tornam oncogenes (geradores de tumor).
As mutações e as causas do câncer
As causas de certos tipos de cânceres
são bem conhecidas, de modo que se conhecem alguns agentes mutagênicos e
carcinogênicos, como a relação entre o câncer de pulmão e o hábito de fumar,
bem como o fato de que a radiação ultravioleta causa câncer de pele, por
exemplo. O primeiro a correlacionar o surgimento do câncer a um agente
ambiental foi o cirurgião britânico Percival Pott (1775), que concluiu que a
alta incidência de câncer no nariz e escroto de limpadores de chaminé estava
relacionada à exposição crônica à fuligem.
Os agentes ambientais que causam
câncer podem ser a ação de diversas substâncias, radiação ionizante, ou uma
variedade de vírus de DNA (o SV 40, adenovírus e vírus do tipo
herpes, por exemplo) e de RNA, sendo todos esses fatores capazes de alterar o genoma. Hábitos saudáveis, como não fumar, usar protetor solar e evitar contato com substâncias que causam mutações ou tumores, são sempre medidas importantes.
Genes que codificam proteínas envolvidas no reparo de mal pareamento.
Se o câncer é uma doença genética que resulta de alterações
no DNA, então qualquer atividade que aumente a freqüência de mutações genéticas
pode aumentar o risco de câncer. Assim, uma alteração em um gene que codifique
uma proteína do mecanismo de reparo do DNA, também pode propiciar o surgimento de câncer.
A primeira evidência concreta de que
um defeito no reparo de mal pareamento de bases do DNA poderia ser um fator para
desenvolvimento de câncer foi em 1993 em estudos com um tipo de câncer de cólon
que não forma pólipos (HNPCC).
A análise do DNA de pessoas com HNPCC
revelou que os microssatélites de células tumorais freqüentemente apresentam
diferentes comprimentos nas sequências correspondentes do DNA de células
normais, tais variações seriam esperadas entre diferentes indivíduos, mas não
entre diferentes células da mesma pessoa. Alterações no comprimento de uma
sequência de microssatélite surgem como um erro durante a replicação do DNA e a
diferença no comprimento das seqüências de nucleotídeos nas duas fitas gera
alças que podem ser corrigidas pelo mecanismo de reparo, mas as células
tumorais de HNPCC in vitro, não
apresentaram maquinaria de reparo por não ser normais.
De fato, um gene defeituoso
responsável pelo HNPCC é carregado por 0,5% da população, responde por cerca
de 5% do referido câncer e a análise do DNA de pessoas com HNPCC também revelou
que grande número delas apresenta mutações debilitantes em genes que codificam
para proteínas do mecanismo de reparo de mal pareamento.
Tratamentos
Além da quimioterapia tradicional, o avanço do conhecimento do câncer vem possibilitando novos tratamentos, por exemplo:
Terapia gênica - tratamento no qual o genótipo do indivíduo é alterado pela adição, deleção ou modificação de um gene específico.
Imunoterapia - método que tenta dar ao sistema imunológico maior envolvimento na luta contra células malignas. O sistema imunológico tem evoluído para reconhecer e destruir materiais estranhos, mas cânceres são derivados da própria pessoa acometida. A imunoterapia pode agir por meio do processamento de fatores que promovem a resposta imunológica, ou modificando células defensoras geneticamente para melhores resultados nesses casos, entre outras técnicas.
Referências
KARP, Gerald. Biologia
celular e molecular: conceitos e experimentos. Editora Manole Ltda, 2005.
GRIFFITHS, Anthony JF et al. Introdução à genética. Guanabara Koogan, 2006.
SITES:
Jornal Folha de São Paulo: http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/02/06/o-cancer-uma-nova-forma-de-vida/ (último acesso em: 10/02/2014).
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