O local
Pico do Jabre.
Um lugar a 1.197 metros de altitude na Serra de Teixeira, município de
Matureia, o ponto mais alto do estado da Paraíba. Local onde a pediplanação
traçou a linha entre o Planalto da Borborema e as terras baixas do Sertão e deixou um rastro de inselbergs de resistência. Um
belo lugar - diga-se de passagem- que merece que deixemos uma breve descrição para os
que ainda não conhecem.
O objetivo
Uma aula de Geologia para alunos dos cursos de Ciências Biológicas e Agroecologia da
Universidade Estadual da Paraíba, onde se pudesse visualizar diretamente
diversos aspectos dos processos e elementos formadores da paisagem, bem como a
própria paisagem resultante da história natural da região. Foi perfeitamente
cumprido: não só pela tranquilidade e oportunidades de aprendizado, mas também
porque poucas aulas nos deixam tão compenetrados quando as desse tipo.
Aula de campo regida pelo professor Ivanildo Costa para estudantes de Biologia e Agroecologia da UEPB. |
Mas
primeiro, pernoitar.
A viagem de ônibus de Campina Grande até
Matureia (cerca de três horas) foi tranquila, mas nem por isso deixaria de
pedir um bom descanso. Não diria que estudantes ansiosos para uma aula de campo
e que venham de turmas diferentes sejam prudentes para dormir cedo ao invés de
bater papo, mas o lugar era agradável (com uma aparência rústica para dar um
toque especial – Casarão do Jabre era o nome do hotel onde ficamos). No interior do casarão também funciona um museu onde coabitam armas arcaicas e peças sacras.
Entre jogos de
futebol na televisão, um jantar e a apresentação de músicos locais, boas
conversas entre amigos, professor e alunos... No fim, descansar um pouco para a
subida na manhã seguinte - e ela chegou rapidinho!
Acordar cedo nem sempre é a atividade mais atrativa do mundo, mas lá estávamos nós (ainda que uns antes dos outros, claro), prontos para a subida no Pico do Jabre. |
Subindo...
Estar animado
por sentir a brisa às seis da manhã de um dia frio é algo que só uma boa
aventura justifica. Mesmo com a gente caminhando em aclive considerável, os
ventos se faziam sentir no começo e no fim da subida (o calor era mais forte a
meio caminho andado). E que subida! Uma paisagem a ser lembrada por um bom
tempo, onde o nevoeiro disputava com as árvores altas e repletas de epífitas,
qual seria a melhor cortina a reservar do nosso olhar a bela surpresa que nos
aguardava no topo, após todas aquelas curvas.
O Pico
O mosaico de
mata serrana e afloramentos rochosos avistados dos quase 1.200 m de altitude, com a região sertaneja servindo de plano de fundo, antes de qualquer
processo mental mais elaborado, antes de qualquer discussão teórica ou
explicação científica, já seria uma perfeita recompensa ao esforço da subida. Mas
como se não bastasse, nossa aula de Geologia realizada em campo preencheu de
significados aquilo que já era admirável por simples aparência.
Observações
As
regiões mais elevadas, como as serras que encontramos no Planalto da Borborema,
geralmente representam lugares relativamente mais úmidos, onde florestas
conspícuas podem ser encontradas; elas predominam na Zona da Mata, entre o
litoral e a caatinga, mas podemos encontrar formações florestais bem mais no
interior, em altitudes geralmente superiores aos 500m. Tais florestas são
bastante diversificadas em sua composição e são conhecidas por diferentes
denominações como Matas Serranas, Mata Brejeira, Brejos de Altitude.
Os tufos verde-escuro sobre este tronco são musgos (Bryophyta). A planta um pouco maior em primeiro plano é uma pteridófita e as manchas esbranquiçadas no tronco são líquens folhosos.
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De acordo com
Rocha & Agra (2002), a vegetação encontrada no Pico do Jabre é subcaducifólia
e mescla elementos florísticos das matas úmidas e caatingas. Andrade-Lima (1981), também observou a relação entre as maiores altitudes e formação de florestas no interior do Nordeste. A rocha aflora em
diversos pontos, permitindo que sejam visualizadas a rocha do pico (sienito) e
alguns processos e acidentes em sua superfície, permitindo a constatação de
alguns fenômenos que se mostram na superfície.
O pequeno círculo claro formado por material diferente da rocha circundante é um xenólito. |
Sulcos na superfície rochosa formados por intemperismo químico. |
A descida:
Já disse o grande Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena se a alma não é pequena". Não diria que foi exatamente fácil largar o conforto de nossas casas, dedicar o nosso fim de semana e sacrificar horas de sono que são tão preciosas em tempos de estudo, mas fomos sabendo do cansaço, responsabilidades e coragem exigidos para uma experiência como essa. Em contrapartida, o desafio serviu mais para renovar as baterias do que nos desgastar:
não há como voltar sem um gás novo de lá!
Uma vez terminada a aula, ainda tínhamos um longo desafio: a volta para casa, começando pela descida que era igualmente cansativa, embora trazendo para os músculos anteriores da perna a força exigida do gastrocnêmio para a subida. Com um misto de saudade, alegria e uma vontade grande voltar lá em outra oportunidade, voltamos bastante satisfeitos e só um pouquinho cansados.
Literatura citada:
ANDRADE-LIMA, D. D. E. The caatingas dominium. Rev. Brasil. Bot, v. 4, n. 2, p. 149-163, 1981.
ROCHA, E. A.; AGRA, Maria de Fátima. Flora of the Pico do Jabre, Paraíba, Brazil: Cactaceae juss. Act. Bot. Bras., v. 16, n. 1, p. 15-21, 2002.
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