sexta-feira, 5 de junho de 2015

Semiárido: do preconceito ao conhecimento.

Casal de rolinhas da espécie Columbina minuta. Foto: Vinícius Cavalcanti



           Flora: pelo menos 1500 espécies de plantas vasculares;

Aves: 510 espécies (distribuídas em 62 famílias);

Peixes: 240 espécies pertencentes a sete ordens (ordens mais numerosas: Siluriformes 101 spp e Characiformes 89 spp);

Répteis: 119 espécies (Amphisbaenia 10 spp, Crocodilianos 3, Lagartos 47, Serpentes 52 spp e Testudines 7 spp);

Anfíbios: 56 espécies (Anura 53 spp e Gymnophiona 3 spp);

Mamíferos: 156 espécies (12 spp endêmicas).


Os dados acima se devem especialmente a duas revisões extensas. A primeira consta no livro Ecologia e Conservação da Caatinga [editado por Inara Leal, Marcelo Tabarelli e José Maria Cardoso da Silva, publicado em 2003] e a segunda no artigo Caatinga Revisited: Ecology and Conservation of an Important Seasional Dry Forest [ALBUQUERQUE et al., 2012]. Eles mostram de maneira contundente que a região semiárida é antes de tudo, um lugar rico.

O famoso carcará - Caracara plancus. Foto: Vinícius Cavalcante
Entre os pesquisadores mais influentes que desbravaram o semiárido com importantes estudos para a descrição da Caatinga sob diversos aspectos, podem ser citados Dardano de Andrade-Lima, Assis Naziz Ab'sáber, Ana Maria Giuliette, Maria Jesus Nogueira Rodal, Marcelo Tabarelli, Inara Leal e seus vários colaboradores, cujas pesquisas ajudaram a revelar as principais características do clima, geomorfologia e vegetação do bioma, cuja rica biodiversidade ainda não é completamente conhecida. 

Não seria possível o desenvolvimento sustentável antes que se conheça o lugar, suas potencialidades, riquezas e limitações. Muitos são os pesquisadores de diversas áreas que dão continuidade à produção de conhecimento da região e elaboração de propostas para sua conservação. Muitas vezes o fazem com pouco incentivo à pesquisa ou nenhum apoio da esfera política para sua aplicação a essa causa primordial para o avanço efetivo de qualquer nação, mas sem eles estaríamos muito mais distantes do avanço necessário. Se hoje sabemos que o semiárido é uma região de beleza e potencialidades, é graças a esses cientistas.


Vegetação

Conhecida por apresentar na sua vegetação plantas adaptadas à seca, a caatinga é descrita na literatura científica como um ecossistema que inclui regiões nas quais a cobertura vegetal assume diferentes fisionomias, ou seja, de acordo com as condições de solo, umidade e regime de chuvas, sua cobertura vegetal vai desde áreas florestadas até os afloramentos rochosos, onde predomina a rocha exposta. A flora da caatinga também apresenta diferenças entre essas regiões, de modo que muitas espécies de plantas são típicas de algumas partes da caatinga.


Tacinga inamoena, planta comum no semiárido. Foto: Herbert Araújo.


É uma vegetação predominantemente arbustiva e de dossel descontínuo, composta por plantas caducifólias, espinhosas, micrófilas ou mesmo afilas, cuja distribuição, sob os domínios do clima semiárido, cobre principalmente as áreas de menor altitude e apresenta-se como uma vegetação sazonalmente seca, denominada xerófita. A palavra “caatinga”, de origem indígena, é o termo empregado tanto no uso comum como na literatura científica para designá-la (Andrade-Lima, 1981). O nome é de origem Tupi-Guarani (etimologicamente explicado pela junção de “ca’a” significando mata ou planta, “tî” derivado de “morotî” -branco- e “nga”, derivado de angá - semelhante) e significa “mata branca” ou “esbranquiçada” (Prado, 2003) referente ao aspecto condicionado pela perda das folhas na estação seca.




O pinhão Jatropha molissima  em período reprodutivo. 
Foto: Herbert Araújo
Há alguma discussão sobre a Caatinga ser um bioma ou não. Para alguns pesquisadores, a diversidade de fisionomias e diferentes aspectos da Caatinga em diferentes regiões de sua distribuição representam uma variedade na sua vegetação que está para além daquela definida por um bioma. Mas para outros, a Caatinga é sim um bioma, uma vez que sua definição como tal comporta as diferentes fisionomias.




São verificadas as seguintes características em comum com relação à vegetação: a) cobre uma área mais ou menos contínua, submetida a um clima quente e semiárido, limitado por áreas de clima mais úmido, cuja maior parte encontra-se na Região Nordeste e uma pequena parte no norte de Minas Gerais; b) possui espécies adaptadas a deficiências hídricas (verificando-se caducifolia, suculência, acúleos e espinhos) sendo marcada por um dossel descontínuo de pequenas árvores, predominância de arbustos e algumas ervas anuais; c) há espécies típicas desta e ocorrentes em outras áreas secas, mas que não ocorrem nas áreas úmidas circundantes, de acordo com Giulietti et al. (2003).

Segundo Coutinho (2006), a caatinga nordestina sensu lato corresponde a um bioma que se constitui de um complexo de formas fisionômicas distribuídas em mosaico, como caatinga arbórea, arbustiva e espinhosa entre outras e Rodal et al. (2008), também corroboram as afirmações acerca da diversidade vegetacional da caatinga, sendo esta caracterizada pelo predomínio da savana-estépica (caatinga sensu stricto), mas não se apresentando homogênea e sim com variada cobertura vegetal em escalas regional e local, em grande parte determinada pelo clima, relevo e embasamento geológico. 

Para entender melhor a relação entre geomorfologia, clima e vegetação do semiárido, leia o post O SEMIÁRIDO E SEU CLIMA.


Referências

AB’SABER, A. N. O domínio morfoclimático das caatingas brasileiras. São Paulo: Instituto de Geografia, USP, Geomorfologia, 1974.

ALBUQUERQUE, U. P. et al. Caatinga revisited: ecology and conservation of an important seasonal dry forest. The Scientific World Journal, v. 2012, 2012.

COUTINHO, Leopoldo Magno. O conceito de bioma. Acta Botanica Brasilica, v. 20, n. 1, p. 13-23, 2006.
GALVÃO, A. C. F. A questão da água no Nordeste. Brasília,MMA/ANA/CGEE, 2012.
GIULIETTI, A. M. et al. Diagnóstico da vegetação nativa do bioma Caatinga. In: SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; FONSECA, M. T. & LINS, L. V. (orgs.). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. p. 48-90. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, 2003.

LEAL, I. R.; DA SILVA, J. M. C. Ecologia e conservação da Caatinga. Editora Universitária UFPE, 2003.

ANDRADE-LIMA. The caatingas dominium. Rev. Brasil. Bot, v. 4, n. 2, p. 149-163, 1981.

PRADO, Darién E. As caatingas da América do Sul. Ecologia e conservação da Caatinga, v. 2, p. 3-74, 2003.


SANTANA, Marcos Oliveira. Atlas das áreas susceptíveis à desertificação do Brasil. 2007.

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