sábado, 16 de fevereiro de 2013

Música: só não combina com preconceito!


     


                                                                                     Herbert Araújo

A musica é uma arte presente nas mais diferentes culturas e é composta por três elementos fundamentais: o ritmo (distribuição dos sons no tempo), harmonia (combinação das notas) e melodia (combinação das notas do campo harmônico em determinados intervalos de tempo). Letra, é opcional; o que conta mesmo é a criatividade e gosto, sendo tudo isso enriquecido pela diversidade de gêneros e estilos.
Tem gente que fala que gosta de “MPB” por ser ela enriquecida com boas letras e “musica de verdade tem que ter letra”. Se fosse assim, a 9ª Sinfonia do Beethoven, a sinfonia Nº 43 do Mozart, ou a Toccata et Fugue, do genial Bach, não seriam música, pois não têm letra! Gosto de MPB (que é muitas vezes confundida com o New Brasilian Jazz, ou jazz brasileiro, que se popularizou com o nome de Bossa Nova, e que é uma parte da MPB) e do modo como os seus representantes (do Tom Jobim ao Lenine) misturam o popular com o erudito. A musica brasileira é tão diversa como nosso povo.
Aliás, bandas brasileiras ganharam o mundo misturando. A Nação Zumbi, com seu Maracatu Atômico, apreciado pelos estadunidenses, a polêmica Sepultura, a Cabruêra, com seu Jazz nordestinizado. E uma banda cuja repercussão internacional desconheço, mas que também merece destaque: O Teatro Mágico, que além de misturar diferentes tipos de música, adiciona pitadas de poesia e arte circense nos seus trabalhos. Mas a ousadia exige competência, como a demonstrada pela banda Angra, que uniu musica clássica e rock pesado, se tornando um sucesso mundo afora. Já surgiu chamando a atenção pela maestria  de suas composições feitas por músicos jovens e de alto nível, como seu primeiro vocalista André Matos (que além de mandar bem no canto lírico é formado em regência e composição) e o guitarrista Kiko Loureiro, considerado um dos melhores do Brasil e internacionalmente reconhecido pela excelência de sua técnica.
A banda finlandeza Nightwish, também ganhou o mundo juntando rock, musica clássica e competência. Pois é, misturar não é exclusividade dos brasileiros. O exemplo mais chamativo: se você ouvir o violão clássico do sueco Yngwie Malmsteen, jamais vai imaginar se tratar de um metaleiro cabeludo que manja música clássica.  E que suas composições já foram executadas pela filarmônica de Tókio, num concerto em que os solos ficavam não a cabo do violino ou piano, mas do som pesado da guitarra Stratocaster do próprio Malmsteen. A reação do público? Aplaudiu de pé a mistura de musica clássica e rock (Baroque & roll).
Música é assim mesmo, se você ouve funk carioca e pensa que funk não é musica, pode se surpreender com o trabalho do baixista Victor Wooten. Se acha que forró é musica de caipira ou matuto, pense em quantos teatros já foram lotados para a apreciação da sanfona do Sivuca. Se supõe que o rock não tem qualidade, conheça o metal progressivo do Dream Theater, a banda toca jazz e rock de primeira linha (o baterista Mike Mangini entrou para o livro dos recordes como o mais veloz e o guitarrista -John Petrucci- é considerado um dos mais técnicos do mundo).
O samba bem arranjado dos Demônios da Garoa, a batida do Olodum, o violão do Baden Powell, Jorge Vercillo, ou mesmo da dupla Victor e Léo, em sua simplicidade, a erudição do Villa-Lobos, do João Gilberto, a energia da Oficina G3, o rap do Rapadura ou do Gabriel O Pensador, são todos componentes dessa arte, e não distorções da mesma, pois ela consiste em um conjunto de poucas notas, seus intervalos e uma infinidade de possibilidades.


Confira:

Angra - Lease Of Life (Official Videoclip)


 Baden Powell - Berimbau

http://www.youtube.com/watch?v=j1sok3vvsBE

 

Dream Theater - The Spirit Carries On Score

John Petrucci - Glasgow Kiss

Lenine - Todas Elas Juntas Num Só Ser


Nação Zumbi - Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada

http://www.youtube.com/watch?v=ICHvZwueL_Q

 

Nightwish - Deep Silent Complete

O Teatro Mágico - Sonho de uma Flauta

RAPadura (Norte Nordeste me Veste)

Victor Wooten - U Can't Hold No Groove
Yngwie Malmsteen & New Japan Philharmonic: Far Beyond The Sun

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Teologia? Pra quê?


Teologia? Pra quê?
Rafael Campos

Qualquer pessoa vive sem teologia. Até considero redundante esta sentença. Pessoas respiram sem saber o porquê. “Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia”, assim disse Shakespeare, e nem por isso o povo do mundo anda morrendo porque não entende os mistérios da vida. Vivemos sem saber de onde viemos, para onde vamos, por que estamos aqui e milhares de outras coisas, enfim, e assim mesmo vivemos, celebramos, sorrimos, desfrutamos do ar que adentra nossos pulmões sem saber a quem ele pertence. Então, quais razões temos para pensar em teologia?
Alguns cientistas escarnecem: “ao invés de pensar ‘em quantos anjos conseguem dançar na cabeça de um alfinete’, é melhor pensar num novo analgésico para dor de dentes!” E aqui me aproprio da mesma lógica para afirmar sua razão intrínseca com a assertiva: a teologia deve tratar a respeito das coisas da vida. Eu já conheço bem a etimologia da palavra, pra quem discordar do que afirmei. E como parte da reflexão sobre a vida eu penso justamente, e aqui é o ponto de convergência, que é necessário para nós humanos pensarmos nossa vida e associá-la com uma reflexão acerca de Deus. Aqui adoto abertamente o ponto de vista cristão sobre a reflexão teológica.
“A teologia é inevitável na medida em que o cristão (ou qualquer outra pessoa) procura pensar de modo coerente e inteligente a respeito de Deus. E não somente é inevitável e universal, como também valiosa e necessária”, afirmou o teólogo Roger Olson, com quem estou em pleno acordo e ainda afirmo que qualquer pessoa interessada em entender melhor a história do mundo ocidental precisa necessariamente conhecer a Bíblia, a história da Igreja Cristã e alguma coisa sobre história da teologia e da própria teologia em si, pois o ocidente é dominado pelo pensamento cristão.
Alguns pensam não ser necessária a reflexão teológica. Søren Kierkegaard, por exemplo, afirmou o seguinte:
“A questão é simples. A Bíblia é muito fácil de entender. Mas nós cristãos somos um bando de vigaristas trapaceiros. Fingimos que não somos capazes de entendê-la porque sabemos muito bem que no minuto em que compreendermos estaremos obrigados a agir em conformidade. Tome qualquer palavra do Novo Testamento e esqueça tudo a não ser o seu comprometimento de agir em conformidade com ela. Meu Deus, dirá você, se eu fizer isso minha estará arruinada. Como vou progredir na vida?
Aqui jaz o verdadeiro lugar da erudição cristã. A erudição cristã é a prodigiosa invenção da igreja para defender-se da Bíblia; para assegurar que continuemos sendo bons cristãos sem que a Bíblia chegue perto demais. Ah, erudição sem preço! O que seria de nós sem você? Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. De fato, já é coisa terrível estar sozinho com o Novo Testamento.”

Discordo em parte desta afirmação. Qualquer pessoa suficientemente sincera pra confessar, já se perguntou quem criou Deus. Mais difícil é pensar em quais livros da Bíblia são inspirados (compare sua Bíblia católica com uma protestante, por exemplo) e por quê. “A Bíblia é ou contém a palavra de Deus?” Quem é que diante das tragédias da vida, como o incêndio ocorrido na boate de Santa Maria não pensou a respeito da natureza de Deus: “se Deus é bom e pode tudo, por que permitiu que isso acontecesse?”.
Afirmar que perguntas desta natureza não tem sentido ou importância, me faz pensar no mínimo que quem assim pensa, não leva a sério o pensamento, a reflexão, a profundidade de tais questões, ou na pior das hipóteses, nem sequer entenderam o teor das mesmas. Acredito que o cristão que incorre no erro de não pensar a respeito não prestou atenção a respeito de algumas mensagens contidas no evangelho.
Reconheço desde já leitor, a superficialidade de minha apologética em favor da teologia, mas um de meus objetivos foi jogar pulgas atrás de sua orelha. Trazer à sua realidade uma possível vontade de se arriscar neste terreno pantanoso, neste caminho diverso, escorregadio, embaraçoso, às vezes frustrante, cheio de aventuras e ansiedades que é a teologia. E para aqueles que se enveredarem por esse caminho, coragem leitor e boa sorte!

Ensaios


CRIA EM AÇÃO

Sou criatura
Sou o criador
Transformando em criação
O que outro já criou

A cria em ação
Assassina a criação
Apressa a prece
O trabalho e a pressão

A sombra assombra
A sobra, sobrou
A réstia rasteja
Sobre a cinza que restou
A imagem e semelhança
Perfeição do Criador

(Beto Rocha)


MEU MUNDO
Lá fora todo mundo
Lá fora tudo muda
Lá fora tudo mudo
Aqui dentro mundo mudo
Aqui dentro muda mundo
Aqui dentro mundo todo
Meu mundo mudo que não muda
Eu mudo que não mudo o mundo meu
A semente, a muda, planta
Mudança do mundo que sou eu

(Beto Rocha)


VERSOS LOUCOS

Escrevo meus versos loucos         
Em velhos pedaços de papel
O sentido ainda é pouco
São da terra e buscam o céu

Profundos em sua loucura
Rasos em sua razão
A razão de sua loucura
É a louca busca por razão

Não entendo o início
Muito mesmo entendo o fim
O sentido está no meio?
O sentido é bom ou ruim?

As perguntas, as respostas
já não sei quais elas são
Tento tanto e não entendo
A razão da criação

   (Beto Rocha)


DAS EXIGÊNCIAS DA VAIDADE

Fica com tua vaidade, Maria,
Eis, pois, tua nova companhia.
E que esta não venha a te abandonar,
Pois quando perderes a “beleza”,
Esta fiel companheira, ao teu lado lastimará.


AMBIÇÃO

O que somos: pobres porquinhos
Edificando a vida com tanta ambição
Pra depois vir a morte, esta loba má,
Que com um sopro aqui outro acolá,
Derruba toda a construção.


COMÉRCIO

Vende-se a felicidade nos livros de Cury.
Vende-se um creme para que a juventude perdure

Vende-se a saúde em drogarias.
Vende-se o conhecimento em livrarias.

Vende-se o êxtase na margem da sociedade.
A televisão vende a solidariedade.

...E perdemos a vida,
Tentando comprá-la.


Natureza em Foco

Ensaio Fotográfico:



Tem bicho que gosta de sombra e água fresca...


...tem bicho que gosta muito de planta...


...tem bicho que até parece planta...
  

...tem pedra que parece brotar no meio das plantas...



...tem planta que brota nas pedras...


...tem planta que cresce em planta...


...tem bicho que parece até máquina...

...e vida por todos os lados.

Olhando assim, até parece que dá para dizer "é vida que não acaba mais!". Não é bem assim, então, cuidemos bem de toda essa riqueza, sejamos sustentáveis, façamos isso por todos.

Paul Ricoeur Fala de Sua Obra Filosófica - Legendado

         




Resenha do Livro: “História, a ciência dos Homens no tempo” – José Carlos Reis


Resenha do Livro: “História, a ciência dos Homens no tempo” – José Carlos Reis
Tempo: uma ciência dos homens na história
Rafael dos Santos Campos[1]


O que é o tempo? Essa pergunta assombra filósofos desde os tempos antigos. Nós o sentimos, falamos dele o tempo todo, mas não conseguimos explicá-lo. Aos moldes de Agostinho: se me falam sobre ele eu sei, mas se me perguntam o que é já não sei. Seria possível apreendê-lo através do discurso? O problema é que existem várias concepções de tempo e categorias de análise: existe o tempo da física, da história, da biologia... etc.
Conforme dito nos Agradecimentos, esta obra é fruto de uma tese de doutoramento cujo título é “Le lieu epistemologigue et Le temps historique des Annales” defendida em 1992, no Institut Supérieur de Philosophie da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. Esta tese já se desdobrou em 4 livros, dentre os quais este, já havia sido lançado pela Papirus editora em 1994 com o título: “Tempo, história e evasão”  e reeditado pela Eduel agora em 2009.
O autor José Carlos Reis é professor da UFMG. Sua produção intelectual é extensa. Reis tem formação diferenciada: graduado em História, possui dois mestrados em filosofia, doutorado em filosofia e ainda 2 pós-doutorados. É autor de 11 livros, sendo a maioria deles sobre discussões teóricas e epistemológicas da História. Reis se interessou pela epistemologia da história, estudando e refletindo sobre a natureza da produção (fazer) e do saber históricos. Reis se destaca por se expor como um articulador dos debates exteriores: quando analise uma obra, ele se dispõe a pensar junto com os principais comentadores da mesma e dar sua contribuição logo após.
Esta obra intitulada “História, a ciência dos homens no tempo” (frase de Marc Bloch em Apologia da História) está organizada em 5 capítulos, todos tratando sobre a problemática do ser do tempo. O que é o tempo? Pode-se falar dele objetivamente? É possível apreendê-lo através do discurso? Qual a relação do tempo com a história? Existem várias concepções do tempo, exemplo: tempo cosmológico, biológico, psicológico, histórico, etc. Como podemos fazer uma mediação entre eles? Estas perguntas são abordadas no decorrer da obra, na qual José Carlos Reis faz um longo diálogo com diversos autores (são mais de 160 referências bibliográficas!), tanto estrangeiros quanto comentadores dos mesmos, nos inserindo assim com os mais atuais debates sobre o tema proposto e seus principais comentadores.
No capítulo 1 “Tempo e terror: estratégias de evasão”, Reis demonstra que o tempo não parece ser apreensível através do discurso, pois as construções cosmológicas e fenomenológicas não puderam atingir o tempo em seu ser. O tempo é causador de terror: as várias sociedades abordadas, como a grega, hebraica, cristã, renascentista e iluminista, tem suas estratégias de evasão com relação à sua temporalidade, e isto é compreendido a partir do olhar, ou seja, das categorias conceituais analíticas emprestadas de Reinhart Koselleck que “fazem aparecer” o tempo histórico: campo de experiência e horizonte de espera. Através desses conceitos Reis tenta perceber como cada sociedade pensa a respeito de seu presente (um passado atualizado) e espera seu futuro, em geral, desejando-o como um fim.

No capítulo seguinte “Tempo e história: entre o tempo cosmológico e o tempo da consciência, o tempo histórico: um ‘terceiro tempo’?”, Reis faz um breve resumo sobre as diversas temporalidades ou as diversas ordens dentro da categoria de conhecimento que chamamos Tempo. Existem basicamente vários tipos de tempo: cosmológico, da consciência, histórico, biológico etc. Questão: é possível articulá-los, ou são distintos em sua compreensão e ontologia?
Ainda aqui se sobressai a questão: é possível uma articulação entre o tempo da consciência ou da experiência e o tempo histórico? A primeira hipótese é de Ricoeur. É possível, através do tempo calendário. Este é mediador entre os dois acima. A segunda hipótese é de Koselleck: “o tempo histórico está longe de ser resolvido pelo calendário e continua sendo a questão mais difícil posta pelo conhecimento histórico” (p.80).
Prosseguindo, após discutir sobre as orientações do positivismo e o historicismo, Reis encerra o capítulo perguntando: “O tempo histórico constitui um terceiro tempo? Sim, mas, também, não”. Sim, pois parece que o tempo-calendário faz uma “síntese original” dessa aporia, e não, pois esta mesma síntese faz aparecer de maneira mais evidente e nítida a dimensão de cada temporalidade (da consciência e cosmológica) mostrando que a aporética continua, portando, não resolvida.

O capítulo três vai tratar do tempo histórico e ciência social. A primeira assertiva é que o “tempo-calendário não é natural, mas uma construção social”. Teóricos como Koselleck, Merton e Sorokin não aceitam a redução do tempo histórico ao tempo calendário. “O tempo calendário torna-se significativo quando transformado em social” (p.102).
O tempo social é complexo: cada sociedade tem seu regime de temporalidade peculiar, portanto, o tempo social é múltiplo, heterogêneo, lacunar, e não uniforme e linear, e ainda não compreende necessariamente o regime de categoria temporal ocidental: passado, presente e futuro. “Sorokin e Merton concluem, o tempo social diferencia-se inteiramente do tempo-calendário, que é uniforme homogêneo, quantitativo; aquele não pode ser jamais assim” (p. 103). Então, percebe-se que o tempo social se distancia ou se diferencia do tempo cosmológico (da natureza).
Neste contexto de aporia, surge a nova concepção de tempo das ciências sociais que alterará a concepção do tempo entre os historiadores, sobretudo da segunda geração dos Annales. Reis considera que “ao construírem o conceito de ‘estrutura’ e ao aplicarem-no à sociedade, construíram uma noção nova de ‘tempo social […] e criam uma nova perspectiva sobre o tempo histórico como um terceiro tempo” (p.107 e 108).
Com o conceito de “estrutura social”, surge uma segunda perspectiva do tempo histórico como um “terceiro tempo”. Nesta “segunda perspectiva do tempo histórico como um terceiro tempo, ele é percebido mais como “tempo social”, isto é, os eventos humanos são inscritos em uma simultaneidade interna a sociedade” (p.109). Mas, “essa perspectiva estrutural é, enfim, anti-histórica” (p. 115), pois recusa a sucessão, o evento.
Finalizando a discussão, Reis conclui que o tempo histórico é e não é um terceiro tempo. É um terceiro tempo, pois,
“como referência dos eventos humanos a processos naturais que, por serem regulares, põem ordem na dispersão dos eventos, é parcialmente um terceiro tempo e parcialmente uma acentuação da ruptura entre os dois primeiros tempos” (132 e 133).
Não é um terceiro tempo, pois, “ele está do lado do tempo da consciência, mesmo quando inconsciente, e mais revela do que supera aquela antinomia entre os dois tempos” (p.133).

O capítulo quatro vai discutir se a “História Estrutural” dos franceses da Escola dos Annales vai realizar a mediação entre tempo cosmológico e o tempo da consciência. A Nouvelle Histoire realizou uma mudança epistemológica em sua compreensão do tempo histórico, ou seja, uma mudança na forma de compreensão do tempo histórico. Segundo o autor, esta nova compreensão epistemológica dos Annales sobre o tempo histórico deriva de suas novas inspirações para o fazer historiográfico: a influência das Ciências Sociais seria determinante, pois com ela a interdisciplinaridade seria uma prioridade nas análises históricas. O tempo aqui é científico e não da consciência. Os Annales, sob a influência do conceito de estrutura, agora quer um tempo longo, de longa duração, evitando assim ações revolucionárias, pois a mudança controlada é mais preferível às mudanças aceleradas e revolucionárias. Não se crer, portanto, na razão histórica, por isso não querem aceleração, em oposição à Hegel e Marx. A história sob a influência da filosofia produziu a aceleração do século XIX. O evento é perigoso e deve ser controlado e estudado com cuidado.
O tempo é estrutural: ele não é acelerado, não enfatiza o evento, mas as estruturas, a longa duração. O tempo da consciência é efêmero, pois, passageiro e relativo. Ele não traz muito significado devido à sua transitoriedade permanente, seu fluxo não duradouro. Os Annales se preocupam em como superar o evento, mantendo-o, pois a especificidade da análise histórica não é a eternidade, mas a mudança, que traz em si a marca deste ser inapreensível: o tempo.
Os Annales não querem cair na armadilha da análise da pura sucessão de eventos, como fizeram os metódicos, mas não querem descer no embalo do tempo acelerado dos filósofos do século XIX. Para Reis, os Annales realizaram sim uma mudança substancial na compreensão do tempo histórico, mas avisa que entre os historiadores desta escola, não há concordância quanto à esta realização.

“Do ser do tempo pode-se falar?” é o título do 5º capítulo desta obra que vai tratar sobre as hipóteses do ser do tempo e dos discursos que tentam apreendê-lo. É uma discussão prolongada, mas não monótona, pelo contrário, muito instigante. A discussão é antiga e quem melhor e começamos aqui com Aristóteles afirmando que o tempo é constituído de não seres: ele já se foi, não é mais e ainda não o é! Agostinho quando se indaga no livro XXI de suas “Confissões” sobre o que é o tempo revela essa aporia: o passado já se foi, o presente já não é e o futuro ainda não chegou. E conclui: o tempo é constituído de NÃO SERES. O tempo assusta, é terrorista. É um devir eterno, mas que não se eterniza, pois não seria tempo. O que interessa é que ele se dá a fala, pois falamos sobre, mas não o apreendemos. E é aí que está aporia: pensamos, sentimos, o vemos nas rugas de nossa face, mas não o definimos de forma satisfatória. A busca pela definição do tempo parece ser angustiante: desde a filosofia grega clássica, os melhores pensadores que temos notícia, passando pelas grandes autoridades da Idade Média, O Renascimento, a Idade Moderna e contemporânea, vários autores pensaram e escreveram sobre este ser que não tem ser e não conseguiram chegar a muitas conclusões totalmente satisfatórias.
Aqui Reis vai falar de forma breve, ou seja, nos apresentar um quadro do que seria as hipóteses objetivistas sobre o tempo e as hipóteses subjetivistas dele. Reis afirma que se pode de alguma maneira falar objetivamente sobre o tempo, mesmo que de forma inacabada e incompleta. Admitindo esta hipótese é que estas teses vão se desdobrar pela filosofia ocidental. Para não nos estendermos muito, gostaríamos apenas de nomear alguns dos autores mais conhecidos que se encontram em cada escola. Na hipótese objetiva, que compreende o tempo como exterior à alma, ou seja, cosmológico, sobre o tempo estão incluídas pessoas como: Platão, Aristóteles, Newton, Kant e Einstein.
Na hipótese subjetivista sobre o tempo, este é abordado fenômeno da consciência, este não-ser é considerado de ordem interior, um meio de compreender os eventos com características temporais (passado, simultaneidade e espera) como extensão da alma. O tempo aqui seria “a mudança vivida continuamente pela consciência em sua relação a si e ao mundo” (p.193). Alguns pensadores incluídos nesta análise são: Platão, Aristóteles, Plotino, Santo Agostinho, Bergson, Bachelard, Levinas,
Poderíamos nos alongar mais em nosso texto, mas correria o risco de ficar hediondo. Esperamos ter oferecido um apanhado geral da obra e ter causado alguma curiosidade sobre a mesma. Para encerrar, a questão final de José Carlos Reis, nesta magnífica obra é um subtítulo deste último capítulo: “Tempo da consciência e Tempo da natureza: haveria relações possíveis?”. A questão levantada por Ladrière é se “o tempo da é a representação de uma condição cosmológica ou o tempo cosmológico; é uma construção da consciência” (p.234). Paul Ricoeur aposta em um solução em sua obra de 1983-1985 “Tempo e Narrativa”: é possível uma mediação entre estes tempos através da intriga. A poética da narrativa que é feita através da intriga, realiza a síntese do heterogêneo, destes tempos que não são imbricados, mas que nesse momento, nesta realização são harmonizados pela trama da metáfora que imita o tempo quando narramos um evento. Esta é a atividade mimética que para Ricoeur tem seu sucesso em fazer a ponte entre tempo da consciência e o tempo cosmológico. Reis encerra sua obra fazendo esta questão: será que Ricoeur harmonizou esta aporia?

REFERÊNCIAS
REIS, José Carlos. História, a ciência dos homens no tempo. Londrina: Eduel, 2009. [Edição Anterior: Tempo, história e evasão: Papirus, 1994].

Ciência e Complexidade





Há muito se vem contestando o antigo “absolutismo da ciência”, no entanto, as verdades científicas nunca deixaram de ser importantes. O Paradigma da Complexidade (ou Pensamento Complexo, que ganha cada vez mais força em todo o mundo) emerge nas últimas décadas como uma proposta de se fazer ciência de um jeito renovado, onde ao invés de termos uma separação entre as áreas do conhecimento, teríamos uma “ecologia dos saberes” e não só dentro da ciência, mas também dela com outras áreas do conhecimento. Assim, segundo seus defensores, o conhecimento será tanto mais próximo da realidade, quanto menos for fragmentado.

“é evidente que cada homem é uma totalidade biopsicossociológica” (Morin)

-Reducionismo

Ao longo da história, o reducionismo se apresentou de formas diferentes, sendo por vezes racionalista, como no cartesianismo; por vezes fisicalista, como na visão mecanicista de mundo, bastante influenciada pelos trabalhos de Galileu Galilei e Isaac Newton, entre outros.
Ernst Mayr, um dos cientistas mais renomados do século passado e mundialmente famoso por seu senso crítico aguçado, afirma ser difícil de encontrar palavra mais ambígua que o termo redução, mas aponta as seguintes formas de reducionismo:

-Reducionismo Constitutivo – Considera que a constituição dos organismos é a mesma que a do mundo inorgânico, tentando explicar fenômenos do mundo vivo em nível de átomos e moléculas.
-Reducionismo Explicativo – Assevera que não se pode compreender um todo enquanto não é dissecado em seus componentes e esses, por sua vez, em seus próprios componentes. Desconsidera, portanto, as propriedades emergentes verificadas em níveis hierárquicos superiores nos sistemas complexos.
-Reducionismo Teórico – Postula que as teorias e leis formuladas em um campo da ciência podem revelar-se como casos especiais de teorias e leis formuladas em um outro campo da ciência. O principal problema desse reducionismo é que ele confunde processos e conceitos.

-Dicotomias


A dicotomia (divisão) fortemente presente na cultura cientificista e racionalista que o reducionismo e diversas correntes de pensamento (como o biocentrismo e antropocentrismo entre outras) implantaram na cultura ocidental é um impasse à relação da humanidade com o planeta. Frequentemente ela aparece em visões dualistas que separam humanidade/natureza, natureza/cultura, etc.
O antropocentrismo, fortemente presente na cultura ocidental, foi introduzido no pensamento científico por Francis Bacon. Para ele, o “homem”, com sua racionalidade e superioridade perante a natureza, seria senhor do seu destino com seu domínio sobre ela, mas essa visão que separa a humanidade da natureza e a coloca como o centro de tudo, não apenas transmite uma visão errada da realidade da vida planetária, como subestima a influência da natureza sobre a humanidade, e isso inclui a construção de sua cultura.
Para Silva (2007), os trabalhos de Piaget e Vygotsky, embora divergentes em suas abordagens, demonstram a forte influência do meio sobre o conhecimento humano, seja esse meio o sócio-cultural, como considerava Vygotsky, seja esse ambiente a própria natureza, conforme a abordagem de Piaget, assim, esses autores demonstram que não há oposição entre os seres humanos e seu meio ambiente, e que natureza, sociedade e humanização não são realidades separadas.
O biocentrismo surge como corrente de pensamento que se opõe ao antropocentrismo, advogando em favor do valor intrínseco das outras espécies e defendendo que a natureza não existe para servir aos humanos, mas que ela existe em si, independentemente dos objetivos humanos. Essa visão, bastante freqüente no discurso preservacionista, foi algumas vezes mirabolante, ao defender a idéia de que a natureza só seria protegida se isolada da ação antrópica (segundo alguns autores, como Diegues, Siqueira & Nogueira, essa visão teve forte influência ao longo da evolução da política ambiental no Brasil). A dicotomia surge como uma quebra da conexão que existe entre as faces de uma mesma realidade e assim, temos que visualizar hora um sujeito, hora um objeto para fazer ciência.

-Modernidade



A primeira tentativa de caracterizar a modernidade pode descreve-la como um estilo ou projeto, um costume de vida ou organização social, surgindo na Europa a partir do século XVII logo tornando-se mundial, acarretado de ambiguidades, esse projeto tem sua base  montada em outro conceito, o progresso, que tem sua origem no latim e pode ser fragmentado em duas palavras: “pro” (que significa para frente) e “gressus” (passo, movimento). Este, por sua vez tem sua base inserida na razão, que era o grande trunfo dos cientistas do iluminismo, pensavam eles que a razão era luz que impulsionaria a humanidade à gloria, sobre o cume dos conhecimentos posteriores, (experimentais) a sociedade seria suficientemente educada a não ter ou ser capaz de resolver qualquer problema de qualquer nível, no entanto, temos a percepção que esse tal progresso junto com sua razão, provocou e tem provocado todos estes problemas acima descritos. Com o avanço da razão, houveram muitas transformações, mas como chamar de progresso a sofisticação na fabricação de armas para matar com mais eficiência? Os métodos sofisticados com que se reduz o homem a meros animais, sem nenhum credito moral? Neste sentido o grande trunfo cai e gera assim a necessidade de um novo modelo educativo, onde possamos ter a visão ou ideia de que progresso verdadeiro só existe quando as mudanças que se fazem colaboram para o aperfeiçoamento da pessoa humana ou da sociedade em que o homem vive.


Interdisciplinaridade

A finalidade da interdisciplinaridade sempre é a pesquisa disciplinar e é, portanto uma noção recente do ponto de vista histórico; pode-se mesmo dizer contemporânea, pois a palavra, para não dizer a coisa, foi forjada certamente há menos de cem anos e sua extensão ao domínio da educação é ainda mais recente porque ela data do pós-guerra mundial. A passagem do pensamento primitivo ao pensamento racional implicou, na Antiguidade pré-alfabética, o desenvolvimento de uma representação linear, centrífuga cujo contato com a totalidade do real mantinha-se graças ao estabelecimento de uma rede de correspondências simbólicas ilimitadas entre o humano e seu meio ambiente: “O mundo é agora aquele da abóbada celeste unida a terra numa rede de correspondências ilimitadas, idade de ouro de um conhecimento pré-científico deixado como lembrança nostálgica até os tempos atuais” (LEROI GOURHAN, 1964, p. 292). Por analogia, a interdisciplinaridade não seria marcada por esse pensamento linear, um conceito impreciso, que agiria da mesma maneira como o exprimia outrora Lao Tseu (1967): “Trinta raios convergem ao centro, mas é o mediano vazio que põe em marcha à carroça”. Mesmo assim é necessário um condutor para guiar esta última e um cavalo sadio para içá-la, pois ela não andará sozinha. Neste sentido a interdisciplinaridade nasce “fora do ensino primário e secundário, este participando apenas de maneira indireta e derivada” A interdisciplinaridade centra-se na pessoa na qualidade de ser humano e procede, então, segundo uma abordagem fenomenológica. Ivani Fazenda, que é, sem dúvida, a figura mais representativa do pensamento interdisciplinar em educação no Brasil, visa construir uma metodologia do trabalho interdisciplinar que se apóia na análise introspectiva pelo docente de suas práticas, de maneira a permitir-lhe reconhecer aspectos de seu ser (seu “eu”) que lhe são desconhecidos e, a partir daí, tomar consciência de sua abordagem interdisciplinar (FAZENDA, 1995).

Transdisciplinaridade

                O conceito é uma abordagem científica que visa a unidade do conhecimento. Desta forma, procura estimular uma nova compreensão da realidade articulando elementos que passam entre, além e através das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade. Além disso, do ponto de vista humano a transdisciplinaridade é uma atitude empática de abertura ao outro e seu conhecimento (Rocha Filho, 2007).Neste sentido podemos entender que, transdisciplinaridade não significa apenas que as disciplinas colaboram entre si, mas significa também que existe um pensamento organizador que ultrapassa as próprias disciplinas. É diferente de interdisciplinaridade, que exemplificando através de uma analogia, é basicamente como as nações unidas, que simplesmente unem-se para discutir os problemas particulares de cada região. Nisto ela é mais integradora. Para haver essa dita transdisciplinaridade, é preciso haver um pensamento organizador, chamado Pensamento Complexo. Pela criação de um meta ponto de vista e não de um ponto de vista. O verdadeiro problema não é fazer uma adição de conhecimento, é organizar todo o conhecimento. Haveria alguma coisa entre e através das disciplinas e além delas? Do ponto de vista do pensamento clássico,não há nada, absolutamente nada, O espaço em questão é vazio, completamente vazio, como o vazio da física clássica. Mesmo renunciando à visão piramidal do conhecimento, o pensamento clássico considera que cadafragmento da pirâmide, gerado pelo big-bang disciplinar, é uma pirâmide inteira; cada disciplina proclama que o campo de sua pertinência é inesgotável. Para o pensamento clássico, a transdisciplinaridade é um absurdo por que não tem objeto. Para a transdisciplinaridade por sua vez, o pensamento clássico não é absurdo, mas seu campo de aplicação é considerado como restrito. Os três pilares que a sustenta são: os níveis de Realidade, a lógica do terceiro incluso e a complexidade — determinam a metodologia da pesquisa transdisciplinar. Portanto é através destes três pilares que se chega ao objetivo.

Ecopedagogia e sociedade global

A Ecopedagogia surgiu da necessidade dos tempos hodiernos de preservar o meio ambiente e buscar ações para a sustentabilidade, e também como novo modelo de educação, assim diante de vários problemas sociais introjetados na sociedade por um sistemático paradigma educacional capitalista, percebe-se a necessidade de um novo modelo de educação, educação essa movida pela práxis, onde a ação movida pela reflexão pode transforma a sociedade hoje capitalista em, planetária, integrada ou global, como queira, mas para isso é necessário de mesmo potencial um pensamento, que pode transforma o paradigma capitalista no paradigma complexo transcendental. Trazendo assim a extinção as desigualdades na sociedade e promovendo assim o limiar da igualdade.

Para o educador espanhol Luzuriaga, “Por educação entendemos, antes do mais, ainfluência intencional e sistemática sobre o ser juvenil, com o propósito de formá-lo e desenvolvê-lo”. Por “processo” podemos entender uma “ação genérica ampla, de uma sociedade sobre as gerações jovens”. Assim sendo, a educação é a “parte integrante, essencial, da vida do homem e da sociedade” (LUZURIAGA, 1985, p. 1-2).

Sobre as formas como se procede a educação encontramos, em Cotrim, duas modalidades:
Educação sistemática: é aquela que se desenvolve de forma planejada, intencional, obedecendo a métodos e programas de ensino previamente concebidos em função de objetivos pretendidos. É ministrada em instituições especialmente destinadas à formação educacional, as escolas.
Educação assistemática: é aquela que se desenvolve sem planejamento específico ou método de ensino intencionalmente organizados. É ministrada de forma espontânea, na família, no trabalho ou em outros grupos da sociedade, através do relacionamento social voltado para o engajamento do indivíduo (COTRIM, 1993, p.23). Neste sentido percebemos que a educação assistemática é que estar mais voltada para o paradigma da complexidade transcendental.

Teria a complexidade sido criada por nossa cabeça ou se encontra na própria natureza das coisas e dos seres? O estudo dos sistemas naturais nos dá uma resposta parcial a esta pergunta: tanto uma como outra. A complexidade das ciências é, antes de mais nada, a complexidade das equações e dos modelos. Ela é, portanto, produto de nossa cabeça, que é complexa por sua própria natureza. Porém, esta complexidade é a imagem refletida da complexidade dos dados experimentais, que se acumulam sem parar. Ela também está, portanto na natureza das coisas.  Além disso, a física e a cosmologia quânticas nos mostram que a complexidade do Universo não é a complexidade de uma lata de lixo, sem ordem alguma. Uma coerência atordoante reina na relação entre o infinitamente pequeno e o infinitamente grande. Um único termo está ausente nesta coerência: a abertura do finito - o nosso. O indivíduo permanece estranhamente calado diante da compreensão da complexidade. E com razão, pois fora declarado morto. Entre as duas extremidades do bastão — simplicidade e complexidade —, falta o terceiro incluído: o próprio indivíduo. Com efeito, justamente por essas e varias outras razões, fica aqui em defesa do paradigma complexo, à transcendental frase de Edgar Morin “a incerteza nos acompanha, mas esperança nos impulsiona”.                                             

Autoria: Francisco Siqueira (graduando em Ciências Biológicas)
             Herbert C. S. Araújo (graduando em Ciências Biológicas)

Referências

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Freire, Paulo. Educação e Mudança. Paulo Freire; tradução de Moacir Gadotti e Lilian Lopes Martin. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. Coleção Educação e Mudança vol. 1

Mayr, Ernst. O Desenvolvimento do Pensamento Biológico: Diversidade, Evolução e Herança. Ernst Mayr. Tradução: Ivo Marino. Brasília, Ed UnB, 1998.

Petráglia, Izabel Cristina. Edgar Morin e a Complexidade do Ser e do Saber. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

Ratinho, Lesly Monteiro. Ecologia, Filosofia e Educação. Diálogos Transdisciplinares na Perspectiva da Transdisciplinaridade. ANAP Brasil, 2008.

Silva, Ana Tereza Reis da. Campo Epistemológico da Educação Ambiental: O Dualismo Homem/Natureza e o Paradigma da Complexidade. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, 2007.