segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Teologia? Pra quê?


Teologia? Pra quê?
Rafael Campos

Qualquer pessoa vive sem teologia. Até considero redundante esta sentença. Pessoas respiram sem saber o porquê. “Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia”, assim disse Shakespeare, e nem por isso o povo do mundo anda morrendo porque não entende os mistérios da vida. Vivemos sem saber de onde viemos, para onde vamos, por que estamos aqui e milhares de outras coisas, enfim, e assim mesmo vivemos, celebramos, sorrimos, desfrutamos do ar que adentra nossos pulmões sem saber a quem ele pertence. Então, quais razões temos para pensar em teologia?
Alguns cientistas escarnecem: “ao invés de pensar ‘em quantos anjos conseguem dançar na cabeça de um alfinete’, é melhor pensar num novo analgésico para dor de dentes!” E aqui me aproprio da mesma lógica para afirmar sua razão intrínseca com a assertiva: a teologia deve tratar a respeito das coisas da vida. Eu já conheço bem a etimologia da palavra, pra quem discordar do que afirmei. E como parte da reflexão sobre a vida eu penso justamente, e aqui é o ponto de convergência, que é necessário para nós humanos pensarmos nossa vida e associá-la com uma reflexão acerca de Deus. Aqui adoto abertamente o ponto de vista cristão sobre a reflexão teológica.
“A teologia é inevitável na medida em que o cristão (ou qualquer outra pessoa) procura pensar de modo coerente e inteligente a respeito de Deus. E não somente é inevitável e universal, como também valiosa e necessária”, afirmou o teólogo Roger Olson, com quem estou em pleno acordo e ainda afirmo que qualquer pessoa interessada em entender melhor a história do mundo ocidental precisa necessariamente conhecer a Bíblia, a história da Igreja Cristã e alguma coisa sobre história da teologia e da própria teologia em si, pois o ocidente é dominado pelo pensamento cristão.
Alguns pensam não ser necessária a reflexão teológica. Søren Kierkegaard, por exemplo, afirmou o seguinte:
“A questão é simples. A Bíblia é muito fácil de entender. Mas nós cristãos somos um bando de vigaristas trapaceiros. Fingimos que não somos capazes de entendê-la porque sabemos muito bem que no minuto em que compreendermos estaremos obrigados a agir em conformidade. Tome qualquer palavra do Novo Testamento e esqueça tudo a não ser o seu comprometimento de agir em conformidade com ela. Meu Deus, dirá você, se eu fizer isso minha estará arruinada. Como vou progredir na vida?
Aqui jaz o verdadeiro lugar da erudição cristã. A erudição cristã é a prodigiosa invenção da igreja para defender-se da Bíblia; para assegurar que continuemos sendo bons cristãos sem que a Bíblia chegue perto demais. Ah, erudição sem preço! O que seria de nós sem você? Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. De fato, já é coisa terrível estar sozinho com o Novo Testamento.”

Discordo em parte desta afirmação. Qualquer pessoa suficientemente sincera pra confessar, já se perguntou quem criou Deus. Mais difícil é pensar em quais livros da Bíblia são inspirados (compare sua Bíblia católica com uma protestante, por exemplo) e por quê. “A Bíblia é ou contém a palavra de Deus?” Quem é que diante das tragédias da vida, como o incêndio ocorrido na boate de Santa Maria não pensou a respeito da natureza de Deus: “se Deus é bom e pode tudo, por que permitiu que isso acontecesse?”.
Afirmar que perguntas desta natureza não tem sentido ou importância, me faz pensar no mínimo que quem assim pensa, não leva a sério o pensamento, a reflexão, a profundidade de tais questões, ou na pior das hipóteses, nem sequer entenderam o teor das mesmas. Acredito que o cristão que incorre no erro de não pensar a respeito não prestou atenção a respeito de algumas mensagens contidas no evangelho.
Reconheço desde já leitor, a superficialidade de minha apologética em favor da teologia, mas um de meus objetivos foi jogar pulgas atrás de sua orelha. Trazer à sua realidade uma possível vontade de se arriscar neste terreno pantanoso, neste caminho diverso, escorregadio, embaraçoso, às vezes frustrante, cheio de aventuras e ansiedades que é a teologia. E para aqueles que se enveredarem por esse caminho, coragem leitor e boa sorte!

4 comentários:

Unknown disse...

Se o objetivo era deixar pulga atrás da orelha, acredito que tenho mais uma pra coleção.
É a mais pura verdade que uma das dificuldades em ser cristão é ter necessidade do conhecimento da Palavra e ao mesmo tempo relutância em praticar suas regras sob a justificativa de não entendê-las, bem simples, simples, não acho que seja, mas que podemos ver a vontade divina pra nós, é evidente. Custa-nos criar pulgas pra que nossos irmãos nos ajudem a nos curar e a curá-los.
Gostei do texto :)

Unknown disse...

"Quem é que diante das tragédias da vida, como o incêndio ocorrido na boate de Santa Maria não pensou a respeito da natureza de Deus."

Meditando um pouco sobre essa citação recordo-me das palavras ditas por Jonathan Edwards. "Você está suspenso por uma linha tênue, com as chamas da cólera divina lampejando à tua volta, prontas para atearem fogo e queimar-te por inteiro. E você continua sem interesse no Mediador, sem nada onde se agarrar para poder se salvar, nada que possa afastar as chamas da cólera divina, nada de teu próprio, nada que tenha feito ou possa vir a fazer, para persuadir o Senhor a poupar tua vida por um minuto sequer (...)"
É pensando na grande e misericordiosa mão de Deus que nos sustenta nessa linha, que então mergulhamos nas coisas cruciais que nos rodeiam, e que tais palavras gerem impacto e reflexão, ou melhor, gerem uma pulga atrás da orelha.

Ótimo texto!

Unknown disse...

Muitos até já têm as "pulgas atrás da orelha", mas mesmo assim não buscam meios para "retirá-las". Só quem já passou (aliás, passa) por esta experência, quem já pôde perceber ao menos um pouco da complexidade do conhecer a Deus, sabe o quanto é difícil enveredar por este "caminho diverso", diferente, de esclarecimentos. Acredita-se que tudo incomoda, porém a grande maioria se acomoda com as tais "pulgas" e nem sequer tentam "compreendê-las", realmente... Quando passamos a buscá-las, mais e mais percebemos o quanto de nada sabemos.
Para poder amar, é preciso conhecer, e como bem você destacou “A teologia é inevitável na medida em que o cristão (ou qualquer outra pessoa) procura pensar de modo coerente e inteligente a respeito de Deus. E não somente é inevitável e universal, como também valiosa e necessária”.
Enfim, ótimo texto! Muito bom saber que ainda existem pessoas a fazer tais reflexões.

Rafael Campos disse...

Obrigado por suas palavras generosas e pelo seu gracioso comentário Thaynara... também é bom saber que existem pessoas q correspondem àquilo que queremos trasnmitir.