segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Ciência e Complexidade





Há muito se vem contestando o antigo “absolutismo da ciência”, no entanto, as verdades científicas nunca deixaram de ser importantes. O Paradigma da Complexidade (ou Pensamento Complexo, que ganha cada vez mais força em todo o mundo) emerge nas últimas décadas como uma proposta de se fazer ciência de um jeito renovado, onde ao invés de termos uma separação entre as áreas do conhecimento, teríamos uma “ecologia dos saberes” e não só dentro da ciência, mas também dela com outras áreas do conhecimento. Assim, segundo seus defensores, o conhecimento será tanto mais próximo da realidade, quanto menos for fragmentado.

“é evidente que cada homem é uma totalidade biopsicossociológica” (Morin)

-Reducionismo

Ao longo da história, o reducionismo se apresentou de formas diferentes, sendo por vezes racionalista, como no cartesianismo; por vezes fisicalista, como na visão mecanicista de mundo, bastante influenciada pelos trabalhos de Galileu Galilei e Isaac Newton, entre outros.
Ernst Mayr, um dos cientistas mais renomados do século passado e mundialmente famoso por seu senso crítico aguçado, afirma ser difícil de encontrar palavra mais ambígua que o termo redução, mas aponta as seguintes formas de reducionismo:

-Reducionismo Constitutivo – Considera que a constituição dos organismos é a mesma que a do mundo inorgânico, tentando explicar fenômenos do mundo vivo em nível de átomos e moléculas.
-Reducionismo Explicativo – Assevera que não se pode compreender um todo enquanto não é dissecado em seus componentes e esses, por sua vez, em seus próprios componentes. Desconsidera, portanto, as propriedades emergentes verificadas em níveis hierárquicos superiores nos sistemas complexos.
-Reducionismo Teórico – Postula que as teorias e leis formuladas em um campo da ciência podem revelar-se como casos especiais de teorias e leis formuladas em um outro campo da ciência. O principal problema desse reducionismo é que ele confunde processos e conceitos.

-Dicotomias


A dicotomia (divisão) fortemente presente na cultura cientificista e racionalista que o reducionismo e diversas correntes de pensamento (como o biocentrismo e antropocentrismo entre outras) implantaram na cultura ocidental é um impasse à relação da humanidade com o planeta. Frequentemente ela aparece em visões dualistas que separam humanidade/natureza, natureza/cultura, etc.
O antropocentrismo, fortemente presente na cultura ocidental, foi introduzido no pensamento científico por Francis Bacon. Para ele, o “homem”, com sua racionalidade e superioridade perante a natureza, seria senhor do seu destino com seu domínio sobre ela, mas essa visão que separa a humanidade da natureza e a coloca como o centro de tudo, não apenas transmite uma visão errada da realidade da vida planetária, como subestima a influência da natureza sobre a humanidade, e isso inclui a construção de sua cultura.
Para Silva (2007), os trabalhos de Piaget e Vygotsky, embora divergentes em suas abordagens, demonstram a forte influência do meio sobre o conhecimento humano, seja esse meio o sócio-cultural, como considerava Vygotsky, seja esse ambiente a própria natureza, conforme a abordagem de Piaget, assim, esses autores demonstram que não há oposição entre os seres humanos e seu meio ambiente, e que natureza, sociedade e humanização não são realidades separadas.
O biocentrismo surge como corrente de pensamento que se opõe ao antropocentrismo, advogando em favor do valor intrínseco das outras espécies e defendendo que a natureza não existe para servir aos humanos, mas que ela existe em si, independentemente dos objetivos humanos. Essa visão, bastante freqüente no discurso preservacionista, foi algumas vezes mirabolante, ao defender a idéia de que a natureza só seria protegida se isolada da ação antrópica (segundo alguns autores, como Diegues, Siqueira & Nogueira, essa visão teve forte influência ao longo da evolução da política ambiental no Brasil). A dicotomia surge como uma quebra da conexão que existe entre as faces de uma mesma realidade e assim, temos que visualizar hora um sujeito, hora um objeto para fazer ciência.

-Modernidade



A primeira tentativa de caracterizar a modernidade pode descreve-la como um estilo ou projeto, um costume de vida ou organização social, surgindo na Europa a partir do século XVII logo tornando-se mundial, acarretado de ambiguidades, esse projeto tem sua base  montada em outro conceito, o progresso, que tem sua origem no latim e pode ser fragmentado em duas palavras: “pro” (que significa para frente) e “gressus” (passo, movimento). Este, por sua vez tem sua base inserida na razão, que era o grande trunfo dos cientistas do iluminismo, pensavam eles que a razão era luz que impulsionaria a humanidade à gloria, sobre o cume dos conhecimentos posteriores, (experimentais) a sociedade seria suficientemente educada a não ter ou ser capaz de resolver qualquer problema de qualquer nível, no entanto, temos a percepção que esse tal progresso junto com sua razão, provocou e tem provocado todos estes problemas acima descritos. Com o avanço da razão, houveram muitas transformações, mas como chamar de progresso a sofisticação na fabricação de armas para matar com mais eficiência? Os métodos sofisticados com que se reduz o homem a meros animais, sem nenhum credito moral? Neste sentido o grande trunfo cai e gera assim a necessidade de um novo modelo educativo, onde possamos ter a visão ou ideia de que progresso verdadeiro só existe quando as mudanças que se fazem colaboram para o aperfeiçoamento da pessoa humana ou da sociedade em que o homem vive.


Interdisciplinaridade

A finalidade da interdisciplinaridade sempre é a pesquisa disciplinar e é, portanto uma noção recente do ponto de vista histórico; pode-se mesmo dizer contemporânea, pois a palavra, para não dizer a coisa, foi forjada certamente há menos de cem anos e sua extensão ao domínio da educação é ainda mais recente porque ela data do pós-guerra mundial. A passagem do pensamento primitivo ao pensamento racional implicou, na Antiguidade pré-alfabética, o desenvolvimento de uma representação linear, centrífuga cujo contato com a totalidade do real mantinha-se graças ao estabelecimento de uma rede de correspondências simbólicas ilimitadas entre o humano e seu meio ambiente: “O mundo é agora aquele da abóbada celeste unida a terra numa rede de correspondências ilimitadas, idade de ouro de um conhecimento pré-científico deixado como lembrança nostálgica até os tempos atuais” (LEROI GOURHAN, 1964, p. 292). Por analogia, a interdisciplinaridade não seria marcada por esse pensamento linear, um conceito impreciso, que agiria da mesma maneira como o exprimia outrora Lao Tseu (1967): “Trinta raios convergem ao centro, mas é o mediano vazio que põe em marcha à carroça”. Mesmo assim é necessário um condutor para guiar esta última e um cavalo sadio para içá-la, pois ela não andará sozinha. Neste sentido a interdisciplinaridade nasce “fora do ensino primário e secundário, este participando apenas de maneira indireta e derivada” A interdisciplinaridade centra-se na pessoa na qualidade de ser humano e procede, então, segundo uma abordagem fenomenológica. Ivani Fazenda, que é, sem dúvida, a figura mais representativa do pensamento interdisciplinar em educação no Brasil, visa construir uma metodologia do trabalho interdisciplinar que se apóia na análise introspectiva pelo docente de suas práticas, de maneira a permitir-lhe reconhecer aspectos de seu ser (seu “eu”) que lhe são desconhecidos e, a partir daí, tomar consciência de sua abordagem interdisciplinar (FAZENDA, 1995).

Transdisciplinaridade

                O conceito é uma abordagem científica que visa a unidade do conhecimento. Desta forma, procura estimular uma nova compreensão da realidade articulando elementos que passam entre, além e através das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade. Além disso, do ponto de vista humano a transdisciplinaridade é uma atitude empática de abertura ao outro e seu conhecimento (Rocha Filho, 2007).Neste sentido podemos entender que, transdisciplinaridade não significa apenas que as disciplinas colaboram entre si, mas significa também que existe um pensamento organizador que ultrapassa as próprias disciplinas. É diferente de interdisciplinaridade, que exemplificando através de uma analogia, é basicamente como as nações unidas, que simplesmente unem-se para discutir os problemas particulares de cada região. Nisto ela é mais integradora. Para haver essa dita transdisciplinaridade, é preciso haver um pensamento organizador, chamado Pensamento Complexo. Pela criação de um meta ponto de vista e não de um ponto de vista. O verdadeiro problema não é fazer uma adição de conhecimento, é organizar todo o conhecimento. Haveria alguma coisa entre e através das disciplinas e além delas? Do ponto de vista do pensamento clássico,não há nada, absolutamente nada, O espaço em questão é vazio, completamente vazio, como o vazio da física clássica. Mesmo renunciando à visão piramidal do conhecimento, o pensamento clássico considera que cadafragmento da pirâmide, gerado pelo big-bang disciplinar, é uma pirâmide inteira; cada disciplina proclama que o campo de sua pertinência é inesgotável. Para o pensamento clássico, a transdisciplinaridade é um absurdo por que não tem objeto. Para a transdisciplinaridade por sua vez, o pensamento clássico não é absurdo, mas seu campo de aplicação é considerado como restrito. Os três pilares que a sustenta são: os níveis de Realidade, a lógica do terceiro incluso e a complexidade — determinam a metodologia da pesquisa transdisciplinar. Portanto é através destes três pilares que se chega ao objetivo.

Ecopedagogia e sociedade global

A Ecopedagogia surgiu da necessidade dos tempos hodiernos de preservar o meio ambiente e buscar ações para a sustentabilidade, e também como novo modelo de educação, assim diante de vários problemas sociais introjetados na sociedade por um sistemático paradigma educacional capitalista, percebe-se a necessidade de um novo modelo de educação, educação essa movida pela práxis, onde a ação movida pela reflexão pode transforma a sociedade hoje capitalista em, planetária, integrada ou global, como queira, mas para isso é necessário de mesmo potencial um pensamento, que pode transforma o paradigma capitalista no paradigma complexo transcendental. Trazendo assim a extinção as desigualdades na sociedade e promovendo assim o limiar da igualdade.

Para o educador espanhol Luzuriaga, “Por educação entendemos, antes do mais, ainfluência intencional e sistemática sobre o ser juvenil, com o propósito de formá-lo e desenvolvê-lo”. Por “processo” podemos entender uma “ação genérica ampla, de uma sociedade sobre as gerações jovens”. Assim sendo, a educação é a “parte integrante, essencial, da vida do homem e da sociedade” (LUZURIAGA, 1985, p. 1-2).

Sobre as formas como se procede a educação encontramos, em Cotrim, duas modalidades:
Educação sistemática: é aquela que se desenvolve de forma planejada, intencional, obedecendo a métodos e programas de ensino previamente concebidos em função de objetivos pretendidos. É ministrada em instituições especialmente destinadas à formação educacional, as escolas.
Educação assistemática: é aquela que se desenvolve sem planejamento específico ou método de ensino intencionalmente organizados. É ministrada de forma espontânea, na família, no trabalho ou em outros grupos da sociedade, através do relacionamento social voltado para o engajamento do indivíduo (COTRIM, 1993, p.23). Neste sentido percebemos que a educação assistemática é que estar mais voltada para o paradigma da complexidade transcendental.

Teria a complexidade sido criada por nossa cabeça ou se encontra na própria natureza das coisas e dos seres? O estudo dos sistemas naturais nos dá uma resposta parcial a esta pergunta: tanto uma como outra. A complexidade das ciências é, antes de mais nada, a complexidade das equações e dos modelos. Ela é, portanto, produto de nossa cabeça, que é complexa por sua própria natureza. Porém, esta complexidade é a imagem refletida da complexidade dos dados experimentais, que se acumulam sem parar. Ela também está, portanto na natureza das coisas.  Além disso, a física e a cosmologia quânticas nos mostram que a complexidade do Universo não é a complexidade de uma lata de lixo, sem ordem alguma. Uma coerência atordoante reina na relação entre o infinitamente pequeno e o infinitamente grande. Um único termo está ausente nesta coerência: a abertura do finito - o nosso. O indivíduo permanece estranhamente calado diante da compreensão da complexidade. E com razão, pois fora declarado morto. Entre as duas extremidades do bastão — simplicidade e complexidade —, falta o terceiro incluído: o próprio indivíduo. Com efeito, justamente por essas e varias outras razões, fica aqui em defesa do paradigma complexo, à transcendental frase de Edgar Morin “a incerteza nos acompanha, mas esperança nos impulsiona”.                                             

Autoria: Francisco Siqueira (graduando em Ciências Biológicas)
             Herbert C. S. Araújo (graduando em Ciências Biológicas)

Referências

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Freire, Paulo. Educação e Mudança. Paulo Freire; tradução de Moacir Gadotti e Lilian Lopes Martin. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. Coleção Educação e Mudança vol. 1

Mayr, Ernst. O Desenvolvimento do Pensamento Biológico: Diversidade, Evolução e Herança. Ernst Mayr. Tradução: Ivo Marino. Brasília, Ed UnB, 1998.

Petráglia, Izabel Cristina. Edgar Morin e a Complexidade do Ser e do Saber. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

Ratinho, Lesly Monteiro. Ecologia, Filosofia e Educação. Diálogos Transdisciplinares na Perspectiva da Transdisciplinaridade. ANAP Brasil, 2008.

Silva, Ana Tereza Reis da. Campo Epistemológico da Educação Ambiental: O Dualismo Homem/Natureza e o Paradigma da Complexidade. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, 2007.

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